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ACOMPANHAMENTO A médica Solange usa sensor para medir sempre a taxa de açúcar no sangue

 

Nas últimas semanas, a comunidade científica foi surpreendida por achados que podem mudar o entendimento sobre a diabete, doença que atinge dez milhões de pessoas no Brasil. Um deles foi divulgado na edição online da revista Nature, uma das mais importantes publicações científicas do mundo. Cientistas do Beth Israel Deaconess Medical Center e do Oregon Health & Science University, dos Estados Unidos, anunciaram que uma das origens da doença pode ser uma disfunção cerebral. Até hoje, conheciam-se apenas duas causas: a incapacidade de o corpo produzir a insulina, o hormônio que abre a porta das células para a entrada da glicose circulante no sangue, e o funcionamento defeituoso da insulina. A descoberta abre uma nova linha de investigação tanto no que diz respeito à busca por métodos de diagnósticos mais efetivos quanto à criação de outros tratamentos, dirigidos especialmente para corrigir o problema.

A descoberta foi fruto de uma grande pesquisa para elucidar um mistério. A ciência já sabia da existência de neurônios sensíveis à ação da glicose, mas desconhecia em que medida isso era importante. “Precisávamos saber como e por que eles tinham essa sensibilidade”, explicou Bradford Lowell, um dos autores do trabalho. A partir da observação de cobaias, o que os pesquisadores verificaram é que, por causa dessa sensibilidade, essas células nervosas desempenham papel importante para o equilíbrio dos níveis de glicose no sangue. Portanto, se não funcionarem corretamente, também contribuem para o desenvolvimento da doença, caracterizada justamente pelo excesso de glicose na corrente sangüínea.

Outro estudo, feito na Universidade de Harvard (EUA), mostrou que, por mecanismos ainda não esclarecidos, a inflamação está ligada ao surgimento da resistência das células à ação da insulina. O problema impede que o hormônio cumpra a sua função adequadamente. “Pode ser o primeiro trabalho demonstrando essa relação”, disse Terry Strom, co-autor da pesquisa. A partir dos resultados, alguns especialistas acreditam que medir a presença de marcadores da inflamação no sangue servirá de alerta para mostrar que está em curso um processo que poderá levar à doença. Porém, outros preferem esperar. “O assunto deve ser visto apenas como uma perspectiva, inclusive porque não há ainda testes em humanos”, avalia o endocrinologista Giuseppe Reppeto, coordenador do Ambulatório de Diabete do Hospital São Lucas, da PUC de Porto Alegre.

 

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AJUDA Com auxílio de novo remédio, Argeu finalmente conseguiu controlar a doença

Mas há novidades que podem ser aplicadas à prática clínica. A médica carioca Solange Travassos, diabética há 22 anos, por exemplo, usa um sensor de monitorização contínua da glicose para avaliar constantemente seus níveis de açúcar no sangue. “Isso me ajuda a combinar as medicações e melhorar o controle da doença”, diz. Entre os medicamentos, há várias opções recentes. Entre elas, a sitagliptina, da Merck Sharp & Dohme. O remédio, chamado de Januvia, inibe uma enzima, a DPP- 4, para potencializar o sistema de incretinas, um hormônio feito no intestino. Quando o nível de açúcar está elevado, as incretinas acionam o gatilho para que o pâncreas aumente o nível de insulina e avisam o fígado para interromper a produção de glicose. “Com a ajuda desse remédio, finalmente baixei minhas taxas de glicemia”, diz o empresário Argeu Villaça Filho, 70 anos, de São Paulo. Outra medicação nova, o Galvus, da Novartis, age pelo mesmo mecanismo. Na fila de chegada ao Brasil está o Byetta, da Eli Lilly. A droga, criada a partir de substância extraída da saliva do lagarto Monstro de Gila, imita o hormônio GLP1, que melhora o funcionamento das células que fabricam a insulina. O laboratório Novo Nordisk também desenvolveu um hormônio sintético que vai concorrer com o Byetta, e uma insulina liberada na forma de vapor. Hoje, nesse quesito, existe o Exubera, insulina em pó fabricada pela Pfizer.