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FEITO Hotz destravou um celular e o trocou por carro

 

O iPhone, famoso multifuncional da Apple – que reúne celular, internet e iPod em um único aparelho –, teve um de seus segredos desvendados. Esse objeto do desejo que levou filas de consumidores em frente às lojas no dia de seu lançamento, em junho, só pode ser utilizado por usuários da operadora americana AT&T. Se o comprador não abrisse sua conta na empresa, o serviço de celular não funcionaria. Mas isso acaba de ser quebrado. Recentemente, surgiram duas formas de desbloquear o iPhone para que ele faça chamadas por qualquer companhia. Agora, há uma série de aparelhos liberados, inclusive na mão de brasileiros. O feito foi comemorado por uma “aldeia global” que se comunica pela rede mundial de computadores. São pessoas que têm por hobby desenvolver softwares e programas do sistema Apple. Elas se uniram para descobrir os mistérios do celular.

A procura por essas respostas gerou uma cruzada organizada em fóruns e canais fechados de bate-papo na internet. “Descobrir como desbloquear o iPhone virou uma espécie de busca do Santo Graal”, conta S., o primeiro brasileiro a conseguir o celular destravado. Ele se refere à mítica aventura em torno do cálice (Santo Graal) utilizado por Jesus na última ceia. Por que a façanha ganhou essa dimensão? Um dos motivos foi justamente a restrição de uso do iPhone. Outro foi o clima de desafio que se instaurou entre esses hackers. Semanas antes do lançamento do aparelho, houve uma convenção de programadores de Apple, nos EUA. Ansiosos por saber detalhes da novidade, tomaram um banho de água fria. Steve Jobs, o fundador da marca, avisou que não seria liberado um kit que descreve os aplicativos do celular. Diante da decepção, formouse uma equipe de craques em programação, o dev team (ou time de desenvolvedores), para obter os tais detalhes.

Foram estabelecidas seis metas. Uma delas era o desbloqueio. Os desenvolvedores voltaram suas atenções para o cartão com chip da operadora. Encontraram um modelo tcheco, o Turbo SIM, capaz de copiar os dados do cartão da AT&T. Eles o acoplaram ao cartão de outra operadora. Foi como criar um disfarce para que o iPhone “pensasse” que o cartão é válido. Foi assim que S. conseguiu que seu aparelho funcionasse normalmente com sua conta da TIM – no Brasil já estão funcionando iPhones com Vivo e Claro.

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NO BRASIL S. não quer aparecer. Ele pertence a um grupo que discute como liberar o celular

 

Um segundo método surgiu em seguida. O americano George Hotz, 17 anos, anunciou ter esbloqueado o celular após fazer modificações no aparelho. Ele provocou um tipo de curto para anular o mecanismo que libera o uso somente para a AT&T. Foi o único a mostrar a cara dentre todas as pessoas que conseguiram destravar os iPhones. Aliás, ensinou o passo-a-passo em seu blog. Hotz ficou famoso, trocou o segundo aparelho que destravou por um Nissan esporte e mais três iPhones. Também conseguiu um emprego. Um terceiro método pode ser lançado nos próximos dias. Os desenvolvedores estariam criando um software para facilitar a liberação. Se dará certo, é outra história.

A Apple e a AT&T acionaram seus advogados para avaliar o que fazer com quem quebrar a proteção do iPhone (que custa cerca de US$ 500). Discute-se até que ponto isso seria ilegal, já que – dizem os hackers – as empresas, na prática, obrigam os compradores a escolher a AT&T. Entre especialistas americanos, acredita-se que dificilmente as companhias entrarão na Justiça contra os hackers. Até porque não são muitos os que conseguiram o desbloqueio. Além do trabalho, sai cara a “brincadeira”. O Turbo SIM, que custava R$ 160, agora está em R$ 757. Fora a taxa de entrega (em torno de R$ 217 para o Brasil). E demora para chegar.