RICARDO STUCKERT/PR

POSE Encontro de Lugo com Lula durou só
20 minutos mais do que o chá de cadeira

Há uma explicação para o chá de cadeira de 40 minutos que o candidato a presidente do Paraguai, Fernando Lugo, tomou na quarta- feira 2, na ante-sala do gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lugo não é o candidato que mais agrada à diplomacia brasileira e Lula só o recebeu por duas razões. A primeira é que deixar de recepcionar um presidenciável de um país do Mercosul seria um gesto politicamente indelicado. A segunda razão reside no fato de que boa parte da esquerda do PT nutre admiração pelo ex-bispo paraguaio, que defende idéias próximas às do venezuelano Hugo Chávez e do boliviano Evo Morales. A conversa de Lula com Lugo durou cerca de uma hora, apenas 20 minutos a mais do que o chá de cadeira. E, na saída do encontro, o presidente brasileiro concordou apenas em posar para uma burocrática foto oficial. Situação bem distinta daquela que protagonizou em janeiro, quando recebeu outro presidenciável paraguaio, o general reformado Lino Oviedo.

Coerente com o discurso que vem fazendo em sua campanha política, Lugo presenteou Lula com o livro Itaipu: águas que valem ouro, que defende o aumento do preço pela energia que o Paraguai entrega ao Brasil. Itaipu é tudo o que Lula não queria discutir. Na campanha, Lugo promete aumentar a arrecadação do governo paraguaio em US$ 5 bilhões anuais somente com a revisão de contratos com o Brasil e a Argentina. Terminada a rápida audiência, o paraguaio afirmou ter dito a Lula que o Brasil não pode se desenvolver em cima da miséria dos países vizinhos. “Eu disse isso mesmo ao presidente Lula”, vangloriou-se. “Creio que fui coerente.” Não deixa de estar correto. Afinal, ele já declarou que pode até interromper o fornecimento de energia ao Brasil, caso o País não lhe pague o que deseja. Oviedo, por sua vez, vem usando o bom relacionamento com Lula para tentar desacreditar Lugo. Na propaganda eleitoral, o general exibe sua foto ao lado de Lula e de Cristina Kirchner, da Argentina, como exemplo de negociação, respeito aos contratos e geração de empregos. Lugo, nos cartazes de Oviedo, está ao lado de Chávez e Morales, definidos como símbolos de conflito, desrespeito aos contratos, crise econômica e desemprego. Na visita ao Brasil, Lugo esperava obter alguma declaração oficial dizendo que não havia autorização de Lula para o uso de sua imagem no material de campanha de Oviedo. Não conseguiu. O máximo que obteve foi a divulgação de uma nota da Executiva Nacional do PT, manifestando apoio a ele.

No Paraguai, Lugo prometeu levar o Brasil à Corte Internacional de Haia para rever o acordo de Itaipu. Mas, ao sair da conversa com Lula, o exbispo moderou o tom e afirmou acreditar na negociação. Falta moderar uma outra promessa que está mais para milagre do que para plano de governo. No palanque, ele promete assentar nada menos que 300 mil famílias, cerca de 1,5 milhão de pessoas. Considerando que o Paraguai tem uma população de seis milhões de habitantes, isso representa uma distribuição de terras para um quarto dos paraguaios. Coisa de candidato milagreiro.