Existem inúmeras lendas em torno de John Casablancas. Criador da Elite, uma das maiores agências de modelos do mundo, com filiais em 47 países e faturamento anual de US$ 140 milhões, ele sempre foi o dom-juan do mundo fashion. Durante 30 anos, usou seu faro apurado para descobrir e seduzir mulheres bonitas. Casou-se com três delas: a francesa Marie-Christine, 58; a dinamarquesa Jeanette, 54; e a brasileira Aline Wermelinger, 26, uma modelo que tinha 17 anos quando subiram ao altar. Também utilizou o charme de playboy nova-iorquino para fazer dinheiro. Para vencer o império da agência Ford, sua principal concorrente, transformou jovens desconhecidas em símbolos de beleza. Assim nasciam as supermodels, que hoje não levantam da cama por menos de US$ 10 mil. Nos anos 80, foram Linda Evangelista, Cindy Crawford e Naomi Campbell. Na década seguinte, Claudia Schiffer, Elle McPherson e Gisele Bündchen. Casablancas inflacionou salários de modelos, gerou disputas de bastidores e comprou brigas. Muitas. Foi o único a ter coragem de despedir Naomi. Com Gisele, não troca palavra. Não a perdoa por ter mudado de agência no auge do sucesso, levando consigo seus contratos milionários. Em 1999, acabou engolido pela indústria que ajudou a criar. Um documentário explosivo produzido pela BBC de Londres mostrou diretores da Elite seduzindo modelos, usando drogas e demonstrando racismo. Sem conseguir administrar o escândalo, Casablancas vendeu suas ações para um grupo suíço e se aposentou. Hoje mantém 52 escolas de modelos espalhadas por países como Estados Unidos, Canadá, Itália, Colômbia e Bolívia. Passa a vida jogando golfe, tênis e futebol em sua casa em Key Biscaine, na Flórida, onde vive com Aline e os filhos John Jr., seis anos, e Fernando, quatro. Ele esteve no Brasil na semana passada para participar do concurso Dakota Elite Model Look e deu a seguinte entrevista a ISTOÉ:

ISTOÉ – A reportagem da BBC apressou sua aposentadoria?
John Casablancas – Ela me fez vender minha parte na Elite. Planejava me aposentar em janeiro de 2000 e permanecer nos bastidores, como sócio majoritário. Após a exibição da fita, apesar de não ter meu nome envolvido nas denúncias, tive de sair. Queria que os diretores se demitissem para colocarmos mulheres à frente da agência e limpar sua imagem. Eles se recusaram e pus minhas ações à venda. Nunca fui nenhum santo, mas jamais usei minha posição para abusar das modelos.

ISTOÉ – O que faz o Brasil ser um celeiro de modelos?
Casablancas – A diversidade de tipos e a fome. Há brasileiras com cara de índia, de africana, de nórdica. Também ajuda o fato de aqui as famílias acharem que ter filha bonita é passaporte para a riqueza. Na Alemanha, os pais querem mandar filha para a universidade. Já no Brasil a garota ganha um concurso hoje e amanhã os pais querem que mande dinheiro para casa. Eles não entendem que a carreira de modelo exige um tempo. Gisele Bündchen, por exemplo, foi descoberta aos 15 anos e ficou dois em Nova York sem trabalhar. Só aos 18, quando ganhou corpo, estourou.

ISTOÉ – Gisele colocou silicone?
Casablancas
– Se fosse para apostar que sim, eu apostaria. Não sei ao certo porque naquela época ela ia e voltava do Brasil e só a booker tinha controle de sua agenda. Sei que até os 15 anos ela não tinha aquele busto. O curioso é que ele desafia as leis da gravidade.

ISTOÉ – Fica triste ao ver aposentadas as estrelas que você criou: Linda Evangelista, Cindy Crawford…
Casablancas
– Não. Essas meninas foram tão abusivas que me faz bem vê-las por baixo. Cindy me roubou muito dinheiro. Para cada contrato assinado por uma modelo, a agência recebe 20% do cachê dela e mais 20% do cliente. Cindy já era garota-propaganda da Revlon quando decidiu deixar a Elite. Isso às vésperas de renovar o acordo. Sua ganância nos fez perder US$ 1,5 milhão por ano. Gisele, quando trocou a Elite pela IMG, também estava no auge, com contrato com a Victoria’s Secret e tudo.

ISTOÉ – Mas você é o responsável por elas se acharem superpoderosas.
Casablancas
– Totalmente. Sou o dr. Frankenstein. Ajudei a carreira de modelo a se nivelar por alto, subi o valor do passe de todas elas e só ganhei ingratidão. É só ver o caso da Caroline Ribeiro (que começou na Elite, mudou para a Marilyn e assinou contrato de US$ 6 milhões com a Revlon). Entre ela e uma modelo iniciante, a diferença de salário é de 1.000%. As tops valem cachês milionários porque colocá-las na passarela faz o desfile sair em jornais e gera milhões de dólares em publicidade gratuita para os estilistas.

ISTOÉ – Você está escrevendo um livro. Será sobre elas?
Casablancas
– Escrevi uma história em que todos os personagens são fictícios e todas as situações, reais. Como o caso de um jogador que mandava um avião buscar a namorada modelo e a levava até Las Vegas. Depois os dois se atracavam e ficavam com a cara inchada de apanhar. Assim como em Balzac e Molière, na moda há personagens arquetípicos: a mãe de modelo, o namorado rico, a top insegura que vira anoréxica… Será um clássico. Sai em janeiro.

ISTOÉ – Sente saudade de seus tempos de agente?
Casablancas
– Tenho saudade de ter 25 anos a menos (risos). Hoje o agente de modelos não é mais uma estrela. É sem sabor e sem cor, vazio. Falta-lhe envergadura.

ISTOÉ – Você tem alguma participação na carreira de seu filho Julian, líder da banda The Strokes?
Casablancas
– Fora o apoio moral, nenhuma. Quando ele tinha 15 anos, me pediu uma guitarra e achei que era desculpa para não trabalhar. Hoje ele detesta ter seu nome ligado ao meu. Por causa da minha separação da mãe dele, Jeanette. Tive um caso com uma modelo e ela pediu o divórcio. Julian tinha sete anos na época e ficou abalado.

ISTOÉ – Assim como sua atual mulher, Aline, 26 anos, Jeanette era bem mais nova que você, não?
Casablancas
– Não. Com exceção de Aline, nunca me casei com adolescentes. Meu primeiro casamento foi aos 20 com Marie-Christine, de 19. Depois veio a Jeanette, cinco anos a menos que eu. A lenda de que me relaciono com ninfetas começou por causa do meu namoro com Stephanie Seymour. Eu tinha 40 e ela 16. Não sou pedófilo, mas um homem que adora mulheres.

ISTOÉ – Como se sente aos 60?
Casablancas
– Só lembro que envelheci porque os atributos próprios de minha carreira sumiram. As pessoas acreditavam que havia cinco Cindy Crawfords na minha cama por noite. Hoje não sou mais encarado como um amante em potencial. Virei um conselheiro, um padrinho, do tipo The godfather (O poderoso chefão, de Francis Ford Coppola).