Durante a conferência sobre meio ambiente de Nova York, em 1997, o ex-presidente russo Mikhail Gorbachev mostrou os problemas da humanidade para as décadas seguintes: “Se não alterarmos nosso estilo de vida, mudanças irreversíveis ocorrerão na biosfera em 30 anos.” O ex-líder soviético se baseava em um documento assinado em 1992 por 1.500 cientistas, entre eles 101 Prêmios Nobel, que alertava para os riscos do planeta. “Parece que foi ontem”, continuou ele. “Mas, desde então, cinco anos se passaram.”

Agora, dez anos se foram desde o alerta, e muito pouco foi feito para reverter os estragos globais. Em 1999, por exemplo, estimou-se que os humanos consumiram 20% a mais de recursos naturais do que a Terra produz anualmente. Falta água potável, o clima já mostra evidentes sinais de aquecimento e as florestas tropicais continuam a ser devastadas.

O aumento populacional acentuado pode trazer ainda mais problemas. Daqui a 25 anos, o planeta atingirá a marca de oito bilhões de pessoas, ou seja, cerca de 80 milhões de novos nascimentos por ano, o equivalente à metade da população brasileira. Dá para imaginar o tamanho da encrenca.

Entre os dias 26 deste mês e 4 de setembro, em Johannesburgo, África do Sul, o mundo se reúne mais uma vez para discutir o problema do meio ambiente. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cinco temas principais serão debatidos: água, energia, saúde, agricultura e biodiversidade. Desde agora, o encontro já se revela polêmico. Nem todos os líderes mundiais deverão estar presentes. Esse é o caso do presidente americano George W. Bush, cujo país é o principal obstáculo ao cumprimento de acordos sobre o clima. Outro problema é a mudança na pauta de discussões. Nações desenvolvidas já deram a entender que deverão discutir a pobreza e as formas de combatê-la, desviando-se do tema principal, o meio ambiente.

O Brasil deverá lutar pela pauta original. Segundo o ministro do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, é preciso pôr em ação as convenções que foram aprovadas na Rio-92, conferência ambiental realizada no Rio de Janeiro, em 1992. Representantes das ONGs acreditam no mesmo. “É preciso discutir as questões práticas, e não fazer novos tratados”, defende Garo Batmanian, secretário-geral da organização ambientalista WWF (Fundo Mundial para a Natureza) no Brasil.

Boas intenções – O problema não é só implementar o que foi decidido há dez anos. Segundo especialistas, o próprio documento que aponta as soluções para o mundo, a Agenda 21, é muito vago. “Há poucos objetivos concretos e muitas declarações de intenções”, disse Stephen Peake, da Open University, na Inglaterra, e ex-funcionário da ONU.
Na África do Sul, o governo brasileiro deve apresentar o seu modelo energético, que conta com quase 40% de geração de energia considerada “limpa”, como o uso de hidrelétricas e combustíveis a álcool, e estudar como ele pode ser implementado por outros países. Apesar de esta porcentagem ter sido maior no passado, chegando a 47,2% na Rio-92, ela ainda é superior à dos países desenvolvidos.
Nas questões de biodiversidade, no entanto, o País não tem tanto do que se orgulhar. Apesar de o governo FHC ter criado no Amapá mais uma reserva florestal, o Parque Nacional do Tumucumaque, o desmatamento na região continua. Entre 1992 e 2000, cerca de 156 mil quilômetros quadrados de florestas, o equivalente ao Estado do Acre, foram devastados na Amazônia.

A respeito do desenvolvimento sustentável, quem avançou mais até agora foi a sociedade civil. Em Johannesburgo, cerca de 500 ONGs brasileiras deverão apresentar seus projetos, principalmente na área de exploração da floresta sem danos ambientais. “Espero que a conferência sirva como um sopro de bons exemplos para o mundo”, diz Tasso Rezende de Azevedo, coordenador da ONG Imaflora. Esse já seria um resultado mais que bem-vindo.