O economista Guido Mantega, 53 anos, formula políticas para o PT desde 1989. Sentado há 100 dias na cadeira de ministro do Planejamento, ele agora desenha projetos para o País. Entusiasmado com o sucesso inicial do governo Lula, Mantega diz que a base para o crescimento está sendo criada.

ISTOÉ – Nesses 100 dias, o governo conseguiu uma boa melhora nos indicadores econômicos. Quando virá a fase do crescimento?
Mantega –
Um dos primeiros objetivos que tínhamos era mudar essa situação de desconfiança em relação ao País e, com isso, acalmar o mercado, reduzir o risco-país, derrubar o dólar. Eu diria que isso foi muito bem-sucedido. O Brasil hoje é visto com outros olhos no mundo inteiro. É preciso criar as bases de um crescimento sustentável para que os juros possam cair e possa haver investimentos no País. Os primeiros passos foram dados. Outro ponto importante é o controle da inflação. Os indicadores econômicos dizem que isso também estamos conseguindo.

ISTOÉ – Mas a inflação ainda está longe de ser controlada…
Mantega –
Eu diria que a inflação é descendente. É outra vitória
do governo. A inflação ainda está acima do patamar ideal, mas
está numa trajetória de queda.

ISTOÉ – A guerra no Iraque é um componente negativo
nesse momento de recuperação. Até que ponto isso pode
afetar os planos do governo?
Mantega –
A guerra foi um complicador, um obstáculo no
caminho desses objetivos, mas foi contornado. Se não houvesse
a guerra, nossa performance no comércio exterior estaria melhor
e o preço do petróleo já estaria menor.

ISTOÉ – Minimizar o desemprego é uma obsessão do governo, nas palavras do presidente Lula. Quando vão começar a aparecer ações diretas para reduzir o número de desocupados?
Mantega –
O desemprego que estamos vendo é praticamente o que nós herdamos, fruto do ritmo baixo do crescimento da economia brasileira. Estamos criando as condições para que em breve haja uma recuperação dos investimentos e o emprego volte a crescer. A área de exportação e a agricultura são setores dinâmicos que estão crescendo bastante. Logo mais isso terá uma influência sobre o nível de emprego. E, quando cair a taxa de juros e houver uma recuperação dos investimentos, teremos uma retomada do nível de emprego.

ISTOÉ – Muitos críticos dizem que o governo é continuísta em relação à gestão de FHC. Como o sr. rebate essa afirmação?
Mantega –
Não estamos tocando a mesma política da gestão
anterior. Ninguém, diante de uma bolha inflacionária, seria irresponsável de deixar uma política monetária frouxa. O que vai nos diferenciar é,
em primeiro lugar, toda a ênfase no social. Em segundo lugar, uma
política mais agressiva de comércio exterior. Em terceiro, as ações
de governo na área de política industrial e política agrícola, onde
teremos ações mais incisivas.

ISTOÉ – Esta semana foi ótima para a economia, com queda do dólar, do risco-país… Há inclusive quem se preocupe com uma queda excessiva do dólar, o que prejudicaria as exportações…
Mantega –

Se melhorar, estraga… Se o dólar cair demais, acaba prejudicando as exportações. Eu diria que é um sucesso absoluto,

porque estamos em plena guerra e os indicadores brasileiros continuam melhorando. Isso demonstra uma confiança na política econômica que

o governo está praticando, na responsabilidade dos atos do governo,

na condução das reformas. E a última pesquisa do Ibope demonstra

que o governo mantém alta credibilidade e que a população percebeu

que certas coisas não serão resolvidas de imediato. É uma

maturidade muito grande.