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Os amigos Nepo e Guindane: reencontro em momento trágico

Em seu longa-metragem de estréia,
De passagem (Brasil, 2003), em cartaz nacional na sexta-feira 30, o diretor paulista Ricardo Elias construiu um elogio à amizade valendo-se dos mesmos elementos que fizeram de Cidade de Deus um retrato da violência. Em uma das primeiras cenas, Jéferson (Silvio Guindane), vestindo o uniforme de um colégio militar carioca, desce do ônibus e olha com tristeza para o cenário à sua frente. É o bairro onde se criou, na zona sul de São Paulo, uma escultura irregular aparentada a Gaudí em suas casas de alvenaria amontoadas e ligadas por “gatos” – ligações elétricas clandestinas. E gente, muita gente. O jovem voltou para casa porque seu irmão, Washington, foi encontrado morto no lado oposto da cidade. Sua tarefa é reconhecer o corpo.

Contra sua vontade, Jéferson parte acompanhado de Kennedy (Fábio Nepo), um amigo de infância que ele não reconheceu a princípio. Afinal, um “gambé” – policial – não anda com traficantezinhos. Mesmo que renascidos na fé evangélica, caso de Kennedy. A travessia de São Paulo, espinha dorsal do filme, o caracteriza como uma história de formação. Ao alternar cenas de infância de Jéferson, Washington e Kennedy, o diretor Elias descreve a formação do caráter de cada um sem apelar para cenas de bangue-bangue. Trata os habitantes da periferia com a mesma clareza dedicada, em outros filmes, a moradores de bairros mais nobres. Além do final surpreendente, a cena de comunhão em que uma nota de um dólar é usada como hóstia vale a ida ao cinema.