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007: o ator Pierce Brosnan emprestou voz e corpo ao game do espião britânico; a semelhança entre o James Bond da telinha e o da telona é de confundir qualquer serviço de inteligência

Em 1985, o diretor americano Woody Allen imaginou o que aconteceria se alguém da platéia pudesse atravessar a tela de cinema, entrar no filme e mudar o rumo da história. Em A rosa púrpura do Cairo, a cinéfila interpretada por Mia Farrow abandona o mundo real e se torna personagem de seu filme preferido. Esse mergulho na fantasia já está ao alcance de qualquer espectador. Bem, qualquer espectador seduzido pelo encanto dos jogos para computador e videogame. Com visual cada vez mais sofisticado, os games baseados em filmes reproduzem o enredo e as emoções da película. Suas imagens e recursos gráficos se aproximam do que é exibido na telona. Para o jogador, a sensação é a de invadir a trama, participando dela como um personagem.

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Terror: com estréia marcada para a mesma data, o jogo e o filme Van Helsing mostram a saga do caça-vampiros do século XIX, que é contratado pela Igreja para eliminar o Conde Drácula

No game Everything or nothing (Tudo ou nada), inspirado na saga do espião James Bond, o jogador ganha as feições, a voz, o charme, as armas secretas e as mulheres que o ator Pierce Brosnan costuma esbanjar nas telas. Os efeitos não são mero truque. Um elenco de peso, especialmente escalado, empresta corpo e voz ao game. Inclusive beldades como a top alemã Heidi Klum. Lançado pela Electronic Arts, o jogo foi considerado uma obra-prima, tanto pela qualidade gráfica quanto pela história original, distinta dos filmes do agente britânico. Quem assina o enredo é Bruce Feirstein, roteirista dos três últimos longas de 007. Em sua semana de estréia, o jogo foi o mais vendido na Inglaterra. Seu lançamento acontece num hiato entre os filmes sobre o espião. O último foi 007: um novo dia para morrer, lançado em 2001. O próximo deve chegar aos cinemas só no final de 2005.

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Animação: num cenário de fábula, o jogador participa das estripulias do monstro Shrek, que tem a companhia de heróis como Robin Hood

Desde 1999, a indústria da jogatina fatura mais do que a cinematográfica. No ano passado, o mercado de games movimentou US$ 21 bilhões, enquanto Hollywood arrecadou US$ 9,2 bilhões. Um bom longa-metragem custa cerca de US$ 100 milhões, e o orçamento de um game impecável é dez vezes menor, em torno de US$ 10 milhões. Para o consumidor, sai mais barato ir ao cinema. Em média, um jogo custa seis vezes o preço de um ingresso. Apesar disso, a longevidade do game é maior. Um filme distrai por duas horas, mas um jogo pode entreter a família durante semanas, até enjoar. Os analistas afirmam que os jogos eletrônicos são o entretenimento mais promissor da atualidade. Sua produção ficou tão complexa que já foi apelidada de “a oitava arte”, numa comparação com o cinema, chamado de sétima arte.

Que o diga Peter Jackson, diretor da trilogia O senhor dos anéis, cujo capítulo final abocanhou 11 Oscar. O game reproduz as paisagens do filme e foi um dos dez mais vendidos nos EUA, em 2003. De olho no sucesso, Jackson planeja lançar seu próximo filme, King Kong, em conjunto com o game, do qual também participa. Estratégias casadas como essa já viraram jogada de marketing. Quando game e filme são lançados na mesma data, a expectativa do público e o alarde da mídia são maiores. Além disso, quem assiste ao filme fica curioso para encarar o game. E quem se aventura no game corre para ver o filme.

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Mercado: mestre dos efeitos especiais e diretor da série de filmes Guerra nas Estrelas, George Lucas oferece ao jogador a opção de lutar a serviço do bem ou do mal

Um bom exemplo é o aguardado Van Helsing, filme com estréia prevista para 7 de maio. Stephen Sommer, o diretor, também trabalhou na produção do game, fabricado pela Vivendi, dona da série Counter strike, um dos jogos de ação mais disputados nas casas de games. A estratégia de lançamento simultâneo será usada na animação Shrek 2, a sequência da epopéia do simpático monstro verde dos contos de fadas. O filme e o game estréiam no Brasil em 21 de maio. No videogame, as ações ocorrem como se surgissem de um livro de fábulas, com direito à participação de celebridades como Robin Hood e os Sete Anões.

Criador da série Guerra nas estrelas, George Lucas é dono da LucasArts, empresa de efeitos especiais que também produz games. O mais recente, Star Wars: knights of the old republic, ganhou o prêmio de melhor jogo do ano na Conferência de Produtores de Games. A aventura acontece séculos antes do primeiro episódio do cinema. E a grande atração está nas mãos do jogador, que escolhe se vai combater como um Jedi ou se defende o lado negro da Força.

É dos filmes de ação, porém, que saem as melhores versões. Um exemplo é Resident evil, do diretor Paul Anderson, o mesmo que adaptou o game Mortal kombat para as telonas. John Woo, que dirigiu Missão impossível 2 e ficou conhecido pelas sequências de lutas em que os golpes parecem coreografias, é a nova estrela da empresa Sega. Outro que se rendeu foi Ridley Scott, diretor de Blade runner e O gladiador. Ele produziu três curtas-metragens promocionais para o jogo Driv3r, da Atari, que podem ser vistos no site www.driv3r.com. O game ainda conta com a voz do ator Mickey Rourke, do filme 9 semanas e 1/2 de amor.

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Esperto: depois do sucesso dos games baseados na trilogia O senhor dos anéis, o neozelandês Peter Jackson prepara um jogo para acompanhar o lançamento de King Kong, seu próximo filme

Os pioneiros dessa onda foram os irmãos Andy e Larry Wachowski, criadores da trilogia Matrix. Game-maníacos assumidos, eles levaram a linguagem dos jogos para o cinema. E incluem nos games detalhes que não aparecem nos filmes. A fabricante é a Atari, criadora de um dos mais visados jogos de combate, Unreal tournament, cuja versão 2004 acaba de ser lançada. Os irmãos Wachowski são um exemplo do que foi apelidado de geração-dedão, já que o polegar é o dedo mais usado nos joysticks e consoles de videogame. Há tempos que o perfil do fanático por games não é mais o do garoto solitário com problemas de relacionamento. O público-alvo da indústria da diversão eletrônica são os adolescentes e jovens adultos de até 35 anos. Alguns deles cresceram jogando o saudoso Atari, o bisavô dos videogames, outros se apaixonaram pelos últimos lançamentos para Playstation, Xbox, Nintendo ou computador.

A fórmula de um jogo de sucesso é desafiar o jogador, envolvê-lo na história e oferecer opções para o desenrolar da trama. Outro atrativo está nas melodias, repetidas exaustivamente durante as partidas. Todo o repertório da dupla de rappers americanos Minibosses é composto de músicas que embalam aventuras de personagens como o encanador Mario Bros, da Nintendo. Prova de que nem no quesito trilha sonora os games deixam a desejar para o cinema.