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Os departamentos de marketing das empresas sabem que hoje há um terceiro elemento na relação custo/benefício: o ambiente. Aquelas com produtos e imagem associados à preservação do planeta têm muito mais chances de vitaminar a própria saúde financeira. Há as que entram na competição ambiental de forma responsável e comprometida. Por outro lado, existem empresas atrás de atalhos que acelerem o processo. Isso explica em parte a proliferação de selos que, em tese, são atestados de correção ambiental.

Impressos nas embalagens, alguns selos são de fato uma tática comercial, com pouca ou nenhuma ação concreta para preservar o ambiente ou diminuir o impacto que a produção gera em rios e florestas. “É a certificação por auto-declaração, em que a própria empresa afirma que seu produto é sustentável”, diz a secretária-executiva no Brasil do conselho que formula o selo FSC (Forest Stewardship Council), Fabíola Zerbini. “É claro que existem aqueles que fazem isso de maneira séria. Mas é diferente do rigor da ‘certificação por terceira parte’, quando uma instituição independente audita os fabricantes”, completa.

Quem age de má-fé aposta na dificuldade de interpretação dos consumidores. “Temos um exemplo claro. Fizemos uma pesquisa para saber o que as pessoas entendiam sobre as tabelas nutricionais na embalagem dos alimentos. A conclusão foi de que 60% não compreendiam o que as informações significavam”, relata João Paulo Amaral, pesquisador em consumo sustentável do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Por outro lado, há também exemplos positivos, como o selo Procel, que certifica se um aparelho elétrico consome pouca ou muita energia. É um método de cores que funciona muito bem. A pessoa olha e já sabe que o indicador “A” – verde, é melhor do que o “E” – vermelho. “Hoje essas etiquetas são mais um critério de decisão na compra de uma geladeira ou máquina de lavar”, constata Amaral.

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Na opinião do especialista, é preciso facilitar a visualização para o consumidor, além de fazer um trabalho de divulgação das certificações mais confiáveis (conheça as principais no quadro abaixo). O vice-presidente da ONG americana Green Building Council – que concede o selo LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) –, Scot Horst, concorda com esse pensamento e vai além. Para ele, também é preciso tornar claro como um determinado selo pode impulsionar mudanças reais, como manter mais florestas em pé, por exemplo. Raciocínios como esse levaram a Green Building Council a rever alguns de seus critérios – considerados “frouxos” – na hora de conceder certificados a uma construção.

Mas, na opinião de Horst, pressionar as empresas não é o bastante. O consumidor tem de entrar na briga. “A questão é: as pessoas realmente se importam?”, questiona. Os engajados podem e devem ir atrás de informação. “Gosto de ir a lugares que se dizem ‘verdes’ e perguntar por que se denominam assim. Isso desafia as pessoas a refletir se realmente conhecem o que vendem”, diz. Ou seja, em uma simples conversa dá para ter uma ideia se o estabelecimento merece o selo que ostenta na porta.

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“O Brasil tem um enorme potencial para investir em construções sustentáveis”

Sustentabilidade está na moda. Mas, para não se perder em meio a tantos selos ambientais, é preciso conhecer o trabalho das organizações envolvidas na emissão desses certificados. Em entrevista à ISTOÉ, Scot Horst, vice-presidente do LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), selo ambiental para construções sustentáveis emitido pela ONG americana Green Building Council, falou sobre mudanças nos critérios do selo e como o consumidor pode ser mais exigente. Horst está no Brasil para a 3a edição da Conferência Greenbuilding Brasil, que acontece em São Paulo entre os dias 11 e 13 de setembro.

ISTOÉ – Por que vir falar sobre construções sustentáveis no Brasil? 

Scot Horst – A Green Building começou nos Estados Unidos, mas hoje 40% dos pedidos de registro que recebemos são de fora do país. Estamos focando mais em Brasil, China, Oriente Médio e Europa, porque é dessas regiões que estão vindo grande parte dos pedidos de registro

ISTOÉ – A Europa tem investido em construções, mesmo com a crise econômica?

Scot Horst – Sim, é o mesmo que aconteceu na recessão econômica nos Estados Unidos, que começou em 2008. Na Europa o número de construções novas caiu, mas aumentou a quantidade de projetos de “retrofitting” (nota da redação: na engenharia, ‘retrofit’ significa reformar e modernizar construções antigas para colocar materiais de melhor qualidade e torná-las mais eficientes energeticamente). Uma das razões é que o retrofitting se torna mais barato a longo prazo, já que o edifício se torna mais eficiente. E reformar é mais barato do que construir do zero. 

O interessante é que nossas políticas mudam não só a estrutura, mas o modo como a empresa pensa. Atitudes simples, como usar papel reciclado, fazem a diferença. E isso também afeta como as pessoas se comportam. Elas levam essa mentalidade para as suas casas e passam a refletir sobre o uso de recursos.

ISTOÉ: Você vem ao Brasil para falar sobre novas regras para a certificação do LEED. Elas vão ficar mais rigorosas?

Scot Horst – Sim. Faz parte do sistema mudar para não estagnar e continuar a crescer, e procurar as melhores práticas para empurrar as pessoas para frente. Os países do Norte da Europa, por exemplo, já seguem práticas de construção sustentáveis excelentes. Com uma certificação mais exigente, podemos comparar essas iniciativas com as de países em desenvolvimento, como a China. 

 ISTOÉ – E quais serão as principais mudanças nas regras?

Scot Horst – Uma das mudanças que entrarão em vigor no Leed a partir de 2013 é avaliar o reuso da água não apenas para abastecimento de pias e esgoto, mas também para o que se chama de “água processada”, como aquela usada em sistemas de refrigeração de ar condicionado ou na lavagem de utensílios de restaurantes, atividades que consomem grandes quantidades do líquido. Os requerimentos em relação à eficiência energética também ficarão mais rigorosos. 

Outro ponto importante é o ciclo de vida dos materiais. Queremos ajudar os gerentes dos projetos a entenderem todo o processo de vida dos edifícios, saber de onde os materiais vêm, quanto foi gasto de água e energia e qual a quantidade de poluentes que foi emitida para produzi-los, e não considerar apenas o preço.

ISTOÉ – Qual é o potencial que o Brasil tem para investir em construções sustentáveis?

Scot Horst – É enorme. O Brasil já gasta menos energia do que muitos outros países, em parte por causa do clima do país. Agora estou no Rio de Janeiro e vejo muitos prédios com janelas abertas, por exemplo. Em Nova York você não vê isso. A Copa do Mundo e as Olimpíadas serão uma ótima chance de desenvolver esse potencial, de construir estádios mais conectados com a natureza, usando menos recursos.

ISTOÉ – Você conheceu algum projeto para a Copa? Algum chamou mais atenção?

Scot Horst – O estádio de Brasília é um dos meus favoritos. Os planos incluem um sistema de ventilação natural e um de captação de água da chuva, que será armazenada no subsolo e usada para irrigar o gramado. Há também a intenção de instalar placas solares com capacidade para 2,4 megawatts na cobertura do estádio. Brasília é uma cidade feita para carros, mas a ideia é criar uma infraestrutura, como ciclovias e estacionamentos para bicicletas, para estimular o público a ir ao estádio pedalando. 

ISTOÉ – Com a quantidade imensa de selos ambientais que existem hoje no mercado, como o consumidor pode distinguir os sérios dos oportunistas?

Scot Horst – Concordo que a grande quantidade de selos é um problema. Nosso trabalho é tornar claro quais são os benefícios de um determinado selo e como ele pode impulsionar mudanças reais, mudar o mercado. Mas a questão é: as pessoas realmente se importam em saber? Acho que muitas não se importam, a não ser que isso as afete diretamente. Por isso temos que ser mais espertos na maneira como incentivamos a sustentabilidade. 

ISTOÉ – E para os que se importam, que dicas você dá?

Scot Horst – Primeiro, quem certifica deve ser transparente, você deve conseguir informações com facilidade. Outra coisa importante é saber quais são seus valores, com o que você se importa. E questionar. Gosto de ir a lugares que se dizem ‘verdes’, como hotéis, e perguntar por que se denominam assim. Isso desafia as pessoas a se perguntarem se realmente sabem do que estão falando. Se vou a um restaurante e quero comer um peixe da fauna local, por exemplo, pergunto sobre a origem do produto.