30ª Bienal de São Paulo/ A Iminência das Poéticas/Pavilhão da Bienal, SP/ de 7/9 a 9/12

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ANTIMONUMENTAL
Thiago Rocha Pitta usa terra e cimento em metáfora ao desaparecimento
das fronteiras, na instalação "Monumento à Deriva Continental"

As exposições de arte são geralmente organizadas segundo um grande conceito que norteia a escolha de todas as obras. Mas Luis Pérez-Oramas, o primeiro curador estrangeiro a coordenar a Bienal de São Paulo, propõe 12 conceitos para a 30a Bienal. A construção da imagem, a teatralidade, o objeto encontrado, o mundo ficcionalizado, a dimensão sonora da imagem, a serialidade, o olhar antropológico sobre a realidade cotidiana, o inesperado, a linguagem, o âmbito público, o arquivo, o território. Temos aí 12 temas pungentes da produção artística contemporânea, que dividem os 25 mil metros ­quadrados do Pavilhão da Bienal, na mostra “A Iminência das Poéticas”.

Sem apelar para grandes estrelas, a Bienal de Oramas oferece um panorama contundente da arte mundial, apresentando microexposições de cada um dos 111 artistas convidados. Segundo o curador, elas correspondem a “constelações pessoais” desses artistas. “Em Bienais anteriores tínhamos salas especiais dedicadas a artistas históricos, mostrando a diversidade de sua obra. Agora todos os artistas têm direito a salas especiais, porque afinal todos são especiais”, diz o presidente da Fundação Bienal, Heitor Martins, à Istoé. “Sabemos que as obras não produzem sentido sozinhas, mas pertencem ao mundo e suas relações. Por isso fizemos uma bienal constelar”, afirma o curador Luis Pérez-Oramas. “Fizemos uma Bienal para a ressonância dos artistas e de suas obras. Uma Bienal inteligente, não bombástica, cheia de vínculos construídos e por construir”, completa.

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MULTIDISCURSO
Instalação "Silence", de David Moreno, ilustra bem as múltiplas vozes desta Bienal 

Nos vínculos construídos por Oramas, a instalação “Monumento à Deriva Continental”, do artista mineiro Thiago Rocha Pitta, por exemplo, pertence ao mesmo universo conceitual dos protótipos de carros utópicos criados pelo norte-americano Dave Hullfish Bailey. Ambos são artistas que trabalham com territórios, trajetos, percursos, distâncias. Já David Moreno, que na obra “Silence” joga com a visualidade do som, interage com obras sonoras como “Imperial Distortion”, do músico e artista visual australiano Marco Fusinato, ou com os trabalhos da compositora, performer
e artista Maryanne Amacher.

Assim, as microexposições dos 111 artistas se espalham na Bienal, como universos particulares que se relacionam entre si. “Porém, a exposição não se concentra em apenas 12 constelações”, adverte Oramas, sugerindo que o conceito se expande para além do espaço expositivo. Estimulada pela proposta, a comunicação visual da mostra, comandada por André Stolarski, projetou 30 cartazes em vez de apenas um. O aplicativo para iPad e celular é outra forma de materialização constelar da mostra. Realizado em parceria com a revista “seLecT”, o app “#30Bienal seLecTed – powered by Bloomberg” vai permitir, além de uma viagem imersiva, que cada visitante crie e compartilhe com outros visitantes suas próprias constelações de obras e conceitos contidos na exposição, expandindo e multiplicando aquilo que é visto no recinto da mostra.

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PARTÍCULAS
A instalação "One Year Performance", do taiwanês Tehching Hsieh (no alto);
tela do aplicativo da Bienal, que leva para o espaço virtual o conceito das constelações

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No contrafluxo do movimento expansionista da curadoria, a gestão de Heitor Martins apresenta números em encolhimento: este ano a Bienal foi realizada com R$ 22,4 milhões. “A Bienal está 20% mais enxuta que a edição passada. Essa redução é reflexo da busca por um modelo sustentável. A longo prazo, queremos ser um exemplo de gestão cultural”, disse o presidente da Bienal.

Fotos: Kelsen Fernandes/Ag. Istoé