Está pensando em montar um pequeno negócio e ganhar liberdade? Pense mais 100 vezes antes de tomar a decisão e dedique alguns minutos à leitura do périplo do casal Cláudia e Fernando Bagateli, ela Relações Públicas, ele agronômo. Em 2000, os dois perderam seus empregos. Era o empurrão que precisavam para realizar o sonho de montar uma operadora de mergulho na paradisíaca Paraty, no litoral do Rio de Janeiro, utilizando o conhecimento que adquiriram no curso de dive master e a paixão que compartilhavam pelo mergulho. Tinham R$ 70 mil na mão, boa parte procedente do pacote social que ela recebeu ao ser demitida do cargo de gerente de comunicação corporativa para a América Latina na Hoechst Marion Roussel (atual Aventis). “Como tínhamos bagagem, conhecimento e dinheiro, resolvemos construir um barco de 15 metros para trabalhar porque entendíamos muito mais de mergulho do que de pizza”, diz Cláudia.

Foi então que o drama começou. Só o casco do barco, encomendado a um fabricante de Cajaíba do Sul, na Bahia, custou R$ 35 mil e levou um ano para ficar pronto, mais do que o dobro do prazo prometido pelos baianos. “Gastamos na construção desse barco, que se chama Anequim, cerca de R$ 150 mil”. Os R$ 70 mil do Fundo de Garantia evaporaram. E o casal, então, resolveu procurar o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) para terminar a construção.

Eles precisavam de cerca de R$ 80 mil para finalizar a obra e começar a trabalhar. Depois de dois meses de idas e vindas, receberam a informação de que teriam R$ 50 mil, através do Banco do Brasil. “Qual não foi nossa surpresa quando o gerente do banco nos perguntou se no Sebrae não nos haviam informado que esse dinheiro só poderia ser liberado no início da construção?” E agora? Os carros, um dele e outro dela, já tinham sido vendidos. Só restava emprestar o dinheiro que a mãe de Cláudia havia recebido depois de 22 anos como professora da Cultura Inglesa: R$ 42 mil do FGTS, que foram somados a um empréstimo do pai e dos bancos, Finasa (R$ 15 mil) e Boston (R$ 10 mil), com taxa de juros de mercado.

Com o barco pronto e endividados até o pescoço, o casal resolveu procurar a Embratur para saber sobre linhas de incentivo que pudessem ajudá-los a sair daquela encruzilhada de dívidas e a comprar equipamentos (cilindros e compressor) absolutamente necessários no ramo do negócio. Recebidos muito bem pela assessoria da presidência, foram encaminhados para o BNDES, que tinha linhas de crédito para pequenas empresas. E lá foram eles. E veio outra decepção: o banco informou que só fazia empréstimos acima de R$ 7 milhões (exatamente a quantia que naquele momento estava emprestando para a reforma da piscina social do Jockey Club) e, para empréstimos menores, o casal deveria procurar um de seus agentes, instituições como Unibanco, Itaú, Bradesco, que estariam autorizados a realizar empréstimos menores para pequenas empresas.

Fantástico? Que nada. Após percorrer todas as trilhas possíveis e imagináveis desses supostos “agentes”, um gerente de agência, que já não aguentava mais a insistência do casal, resolveu abrir o jogo: “Na realidade, o banco não tem interesse em emprestar essa verba do BNDES para vocês, pois não há lucro justificável na transação e o risco de investir em um negócio tão pequeno como o de vocês é muito alto.”

Depois de dois anos de luta e inúmeras noites sem dormir, o casal tem apenas um empregado e uma desilusão do tamanho das dívidas. A única casa que o pai de Cláudia tinha como investimento também foi vendida para enfrentar a voracidade dos juros das dívidas. “Não temos dinheiro sequer para divulgar nosso barco nas escolas de mergulho”, diz Cláudia. “Temos dívidas imensas e meu pai, que está em São Paulo visitando instituições financeiras para tentar levantar uma quantia de dinheiro que nos ajude, só ouve “não”. O pai dela, Paulo Facin, jornalista há mais de 30 anos, tem patrimônio, renda mensal razoável e 62 anos de vida limpa.