O famoso skyline de Nova York tem mudado rapidamente e ganha, cada vez mais, contornos futurísticos. Nem sempre, porém, esta transformação se dá para melhor, com o “novo-pobre” substituindo o “histórico-rico”. Mas na Oitava Avenida, na altura do coração de Manhattan, plantou-se uma exceção de qualidade, onde o que era velho passa a integrar um nascimento recente. Um exemplo do melhor do estilo Beaux Arts – que combina arquitetura grega e romana –, acomodando o desenho arrojado da arquitetura computadorizada. O prédio, que serviu desde 1929 de quartel-general para o império de comunicações Hearst (que edita as revistas Esquire e Cosmopolitan, entre outras), foi integrado como base de uma torre de 46 andares – com estrutura poligonal aparente – que lembra um vaso de cristal. A obra, encomendada pela Hearst Corporation ao arquiteto britânico Norman Foster, ao custo de meio bilhão de dólares, foi aberta ao público neste mês.

Foster, que encantou o mundo com seu projeto para o novo Reichstag – o Parlamento alemão em Berlim –, foi obrigado pelo patrimônio histórico da cidade a usar as fachadas do velho prédio da companhia. Mas para elevar um edifício de escritórios moderno sobre um pedestal tão finamente trabalhado era necessário um lance de gênio. Foi o que o arquiteto fez: uma estrutura que ele chama de “diagrid” (um grid diagonal). Além de original, a forma permite vistas insuspeitas no que seriam as esquinas em cada andar. A obra é considerada “verde” – ecologicamente responsável, com o máximo aproveitamento de energia e reciclagem de poluentes. Oitenta e cinco por cento do material da estrutura original foi também reaproveitado. A chuva servirá para repor a água evaporada no sistema de ar condicionado e também ajudará na irrigação de plantas e na manutenção da cachoeira que compõe a escultura do atrium. “Não adianta fazer uma obra bonita, mas sem um conteúdo que acompanhe as inovações da forma. É preciso estabelecer padrões de conforto que ao mesmo tempo sejam ecologicamente inteligentes”, diz Foster.

A revista New Yorker, uma analista séria da inteligência da cidade, chamou Foster de “O Mozart da Arquitetura” pela elegância e pelo brilho de seus conceitos. A família Hearst tem tradição na área do arrojo arquitetônico. O patriarca William Randolph Hearst mandou construir para si a famosa Xanadu, uma mansão na Califórnia que mais parece um castelo de marajá indiano. Essa torre da Oitava Avenida, o novo produto da família, é jóia digna da coroa de um rei.