Eles não podem ser vistos a olho nu. Grande parte muda de disfarce a uma tal velocidade que é difícil encontrar uma arma que os extermine. O fato é que nunca na história da humanidade a ciência foi desafiada por tantos vírus capazes de provocar medo e mortes em todo o mundo. O último a aterrorizar a população é o H5N1, responsável pela gripe aviária, que já matou 130 pessoas em vários países. E ainda estão na lembrança o pavor gerado pelo ebola, famoso por levar a um sangramento fatal, e também o vírus da Sars, a Síndrome Respiratória Aguda Grave, que atingiu a Ásia em 2003 e matou 774 indivíduos. São apenas alguns exemplos das ameaças que assustaram o planeta nos últimos anos.

Não por acaso, na última semana, especialistas americanos reuniram-se na Universidade de Rochester para discutir meios de impedir que o Influenza,
o causador da gripe, se torne uma estratégia de bioterrorismo. O temor é
justificável. Só nos EUA, ele mata anualmente 35 mil pessoas. O que aflige os pesquisadores é que o vírus seja intencionalmente modificado para ficar mais
letal. “É fundamental estarmos preparados”, afirmou Martin Zand, diretor do
Centro de Biodefesa Imunológica.

Diante das vitórias contra doenças complexas como o câncer, é de se perguntar por que não se derrota um inimigo tão pequeno. Afinal, visto de longe, ele parece frágil. “O vírus é uma forma primária de existência. Precisa das células para se viabilizar”, explica o infectologista Ricardo Diaz, de São Paulo. Esses seres, porém, se multiplicam rapidamente. E muitos se alteram tanto que enganam o corpo e os remédios. Além disso, uma boa parte mistura seu material genético ao dos humanos. “Dessa maneira, ficam para sempre no organismo”, diz o virologista Hermann Schatzmayr, do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro.

Para alguns especialistas, não há hoje luta pior, na ciência, do que a travada
nesses campos invisíveis. O pior é que eles costumam atingir com crueldade os países em desenvolvimento. É o caso da febre amarela, típica dos trópicos. O problema é que o mosquito que transporta o vírus da doença é o mesmo que
carrega o da dengue. “E se um dia o inseto migrar e levar esses males para outras regiões? A migração é possível”, afirma o infectologista Jack Woodall, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Outra preocupação é a devastação ambiental. Ao explorarmos novas áreas, temos contato com vírus inofensivos para animais, mas fatais para o homem. Acredita-se que a Amazônia abrigue centenas desses microorganismos. Mais. Com o aquecimento da Terra, existe a chance de os vírus “tropicais” se expandirem para uma região maior. Por isso, Woodall diz que a guerra travada hoje é entre humanos e micróbios. “É uma luta até a morte, cuja vitória ninguém pode prever. É como querer adivinhar quem será o campeão da Copa”, compara.