Nem bem tinha começado a manhã da quarta-feira 21 em Brasília e ela já estava na ativa. Metida num terninho preto risca de giz, jeito franzino, sotaque carregado, a mineira Cármen Lúcia Antunes Rocha, a mais nova ministra do Supremo Tribunal Federal, seguia para mais um compromisso da rotina rígida à qual começara a se acostumar dias antes, quando passou a freqüentar diariamente a mais alta Corte do País para conhecer os primeiros dos dez mil processos que a aguardam por lá. Naquela quarta-feira, Cármen Lúcia estava a poucas horas de ser empossada no cargo, em cerimônia pomposa. Por uma hora e meia, ela falou a ISTOÉ. Não escondia a ansiedade. “Não dá para não ficar ansiosa”, dizia. Jurista renomada, sumidade em direito constitucional, ela chega com fama de briguenta, trazendo na bagagem uma trajetória que a coloca como alguém que tende a contribuir para fazer do Supremo uma instituição menos sisuda e, ao mesmo tempo, cada vez mais próxima da sociedade.

Militante de causas que envolvem os chamados direitos fundamentais dos
cidadãos, a ministra arregaça as mangas nas horas vagas para participar de projetos sociais na cidade onde cresceu: em Espinosa, interior de Minas, ao lado de amigos, leva comida a crianças carentes. Mas, como ela própria diz, a ajuda que mais gosta de dar é outra. É ensinar as pessoas a se organizarem para brigar por seus direitos. “Muito mais importante do que oferecer uma coisa concreta é ensinar as pessoas a se organizarem”, prega. Cármen Lúcia, até então procuradora do Estado de Minas Gerais e professora universitária, tem 52 anos e é solteira. Na corrida pela vaga, teve como um de seus principais defensores o ex-presidente Itamar Franco. Sua chegada ao Supremo reforça o time dos ministros tidos como progressistas – dentre eles Sepúlveda Pertence, decano da Casa, e Carlos Ayres Britto. Trata-se de uma nova fase na Corte, até pouco tempo atrás dominada por um conservadorismo que tinha como emblema máximo o ministro Moreira Alves, aposentado em 2003. Agora, se sobressai um novo perfil, de juristas menos empolados e mais engajados social e politicamente.

É do alto de seu engajamento social que a nova ministra observa, com ressalvas, o Fome Zero, principal programa social do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que a nomeou para o cargo. Para ela, em vez de eternamente dar às pessoas o peixe, o presidente, como chegou a pregar, deveria ensiná-los a pescar. “Não se ensina a nadar quem está se afogando. Primeiro você salva. Mas depois é preciso ensinar a nadar”, defende. É com esse tipo de pensamento que ela pretende esquentar os debates na Suprema Corte.

10 mil processos estão à espera de um parecer da nova ministra do Supremo