LYGIA CLARK: UMA RETROSPECTIVA/Itaú Cultural, SP/ de 1O/9 a 11/11

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Quando, lá no começo dos anos 1960, a artista Lygia Clark abandonou o plano bidimensional da pintura e da gravura para mergulhar em experiências sensoriais tridimensionais, ela talvez não imaginasse que no futuro viveríamos conectados a dispositivos digitais que a todo momento consomem nossos sentidos. Mas ela sabia, como ninguém, que neste futuro a palavra “conexão” estaria na ordem do dia, não só no mundo da arte, mas principalmente como uma urgência social. Em “Lygia Clark: uma Retrospectiva”, que tem curadoria de Felipe Scovino e Paulo Sergio Duarte, é possível conhecer não apenas as máscaras, luvas e roupas concebidas para serem usadas coletiva ou individualmente – os “Objetos Sensoriais”, cujas réplicas poderão ser manipuladas e experimentadas pelo público –, mas também uma série de trabalhos inéditos cuja execução se deu graças à tecnologia digital.

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VERSÃO DIGITAL
Em “Construa Você Mesmo” (à cima) e em “Arquitetura Fantástica (à baixo), o público poderá
mover as paredes da casa idealizada por Lygia Clark e dar nova forma à escultura virtualmente

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“Lygia só não realizou esses projetos anteriormente por questões tecnológicas ou financeiras”, afirma Alessandra Clark, neta da artista e coordenadora da Associação Cultural O Mundo de Lygia Clark, que, em parceria com o Itaú Cultural, executou quatro projetos inéditos, escolhidos diretamente das anotações de Lygia Clark. Um deles é o filme “O Homem no Centro dos Acontecimentos”, cujos esboços foram descritos pela artista no ano de 1967. Ela imaginou um homem que teria o seu cotidiano registrado por meio de quatro câmeras posicionadas em sua cabeça. O filme, finalmente realizado, poderá ser conferido no espaço expositivo onde os quatro pontos de vista são projetados em telas diferentes. A ideia, que hoje nos parece simples, seria extremamente penosa e cara se realizada na época de sua idealização, já que as primeiras câmeras de vídeo portáteis eram muito pesadas e só chegaram ao Brasil na década de 1970.

O digital também dará destaque às obras dedicadas à arquitetura. Maquetes 3D das esculturas da série “Arquitetura Fantástica” – versões gigantes dos bichos articuláveis, pensados para ocupar espaços urbanos – e “Construa Você Mesmo”, residência cujas paredes seriam móveis, poderão ser manipuladas virtualmente pelos visitantes. Estes também terão acesso a uma espécie de museu virtual, disponível via internet, em que é possível fazer sua própria curadoria escolhendo obras da exposição. “O diferencial dessa retrospectiva é que ela irá funcionar como um organismo vivo, pois nesse museu virtual as pessoas terão acesso aos blogs das obras, fazendo comentários e deixando suas próprias interpretações”, diz Alessandra Clark, que também transformou em aplicativo gratuito para iPad, o “Livro-Obra”, espécie de diário artístico escrito por Lygia Clark e originalmente publicado em 1973. Nina Gazire 

Foto: Associação Cultural O Mundo de Lygia Clark/Fotógrafo desconhecidos e Museu Virtual/Núcleo Inovação