Alguns presidentes brasileiros primaram por suas realizações. Outros uniram às obras que os eternizaram estrepolias na vida amorosa. O recém-lançado livro Presidentes do Brasil – de Deodoro a FHC, organizado pelo historiador Fabio Koifman, carioca, 38 anos, da Universidade Estácio de Sá, disseca em 931 páginas (R$ 99) a vida pessoal e profissional desses homens ilustres. Onze deles mereceram um verbete à parte sobre as puladas de cerca. Um dos maiores estadistas brasileiros, Juscelino Kubitschek (1902-1976) foi também um grande namorador. Maria Lúcia Pedroso, mulher do então deputado José Pedroso, foi seu caso mais rumoroso. Depois que o marido traído deu um tiro no secretário de imprensa do presidente, Autran Dourado, JK provocou: “Do José Pedroso, só tenho medo de chifrada.”

Koifman não se arrisca a eleger o presidente mais mulherengo, alegando que esse tipo de fama pode ser potencializado pela projeção de cada político. Seu critério foi se limitar às versões oficiais. Por isso, não incluiu Fernando Henrique Cardoso no hall dos conquistadores. Na lista dos presidentes que tiveram filhos fora do casamento, estão João Goulart, João Baptista Figueiredo e Fernando Collor de Mello. Sobre Fernando Henrique, Koifman limitou-se ao venenoso comentário: “Sem qualquer característica física que o justifique, FHC tem fama de agradar às mulheres.”

Quem não primava pelos dotes físicos mas aprontava das suas era Jânio Quadros (1917-1992), classificado como um “galanteador insistente”. Até sua mulher, dona Eloá, admitiu: “Eu jamais conheci homem tão feio.” Um de seus alvos teria sido Hebe Camargo. A apresentadora contou que foi tão assediada por Jânio que até marcou um encontro com ele. Mas não apareceu. Já a ex-funcionária do governo paulista Diva Pereira Lima foi “vítima” do então governador: “Notei que ele, pela maneira de me fitar, não alimentava boas intenções. Antes que me retirasse me fez propostas indecorosas, pedindo até que eu entrasse dentro de um armário embutido em seu gabinete.”

Vítimas também podem ter sido as belas manequins que desfilaram os modelos Pierre Cardin no Palácio Laranjeiras, ao lado de Fernando Collor de Mello, no auge de seus 18 anos. Bonito, vaidoso e bom partido, Collor, “armado” com garrafas de champanhe francês a bordo de seu Mustang, concordou em participar do tal desfile com o único objetivo de levar as jovens para seu apartamento. Conseguiu, segundo o livro. Após centenas de casos amorosos durante a juventude, Collor acabou se casando com uma das mais belas integrantes da sociedade carioca, Lilibeth Monteiro de Carvalho, e depois com a alagoana Rosane Malta. Se existem traições em seus dois casamentos, o livro não diz. Assim como não são citadas as escapadelas de João Baptista Figueiredo (1918-1999), com fama de conquistador. O único fato comprovado foi sua relação com Edine Souza Correa, ex-funcionária do Serviço Nacional de Informações, com quem teve o menino David.

Embora não constasse nenhum rebento de sua trajetória fora do casamento, Getúlio Vargas (1882-1954) é considerado um dos mais românticos presidentes da história. Um de seus casos badalados foi com a vedete Virgínia Lane. Seu metro e meio teria ajudado a atrair o interesse do caudilho, também baixinho. Não chegou a ser uma paixão avassaladora, mas Getúlio deixou o registro de um outro amor de nome não revelado, em que fica clara sua paixão: “Terminado o expediente saí à tardinha para um encontro longamente desejado. Um homem no declínio da vida sente-se, num acontecimento destes, como banhado por um raio de sol, despertando energias novas e uma confiança maior para enfrentar o que está por vir.” Mal sabia ele que o “por vir” era seu próprio suicídio, ao deixar a vida “para entrar na história”.

O mais dramático episódio amoroso foi o tiro que o galanteador Washington Luís (1869-1957) levou de sua amante, a jovem marquesa italiana Elvira Vishi Maurich, então com 28 anos. Era madrugada de 23 de maio de 1928 quando o presidente foi internado às pressas na Casa de Saúde Pedro Ernesto. Segundo os boletins médicos, tratava-se da urgente retirada do apêndice. Na verdade, narra o autor, Washington Luís fora alvo do violento ciúme da marquesa. Quatro dias após o atentado, ela se suicidou. Apesar de o livro reunir casos extraconjugais de apenas 11 presidentes, o autor diz que só põe “a mão no fogo” por um deles: Afonso Pena (1847-1909), pai de nove filhos. “Esse não teve amantes, era apaixonado pela mulher, Maria Guilhermina”, garante Koifman.