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ELITE
Patrícia Pillar como a nobre Constância: boas
maneiras e aversão pelo trabalho

Após quatro anos fazendo apenas participações especiais na tevê, a atriz Patrícia Pillar retorna em grande estilo na nova novela das seis da Rede Globo, “Lado a Lado”, que estreia na segunda-feira 10. Para marcar a volta, ela vai ser novamente uma vilã, papel que representou a grande virada em sua carreira quando deu vida à odiada Flora, em “A Favorita”, justamente a sua última grande atuação. Na época, a atriz ganhou 17 prêmios. Envolta em rendas diáfanas e protegida por chapéus dos quais pendem cachos dourados, ela vai guardar a suavidade apenas para os figurinos e o visual. Na trama de João Ximenes Braga e Claudia Lage, Patrícia promete mostrar as garras como a ex-baronesa Constância, uma típica aristocrata carioca do início do século passado que se investe de um preconceito de classe ao ver diminuído o seu prestígio e poder econômico. A matriarca vai encarnar os ressentimentos da elite brasileira da época, marcada pelo fim da monarquia, e expor o racismo, segregacionismo e a cobiça nos laços domésticos e nas relações sociais. Esse momento complexo estimula a atriz: “Esse é um período especialmente rico da história do Brasil. A República que temos hoje, com seus defeitos e qualidades, nasceu ali.”

Para viver Constância e incorporar à sua personalidade o jeito de “bem-nascida”, a aversão pelo trabalho e a fineza no trato social das pessoas de seu círculo, a atriz fez preparação corporal e frequentou palestras sobre a época enfocada. “Mas tudo o que eu precisava para compor a personagem encontrei no próprio texto”, afirma. Na visão da ex-baronesa, é justamente o berço que a distingue dos “reles mortais”. Essa suposta superioridade vai ser posta à prova quando a sua filha Laura, vivida por Marjorie Estiano, ficar amiga da descendente de ex-escravos Isabel, uma empregada doméstica interpretada por Camila Pitanga. E mais ainda, quando o filho Albertinho (Rafael Cardoso) se apaixonar por ela. Além das relações inter-raciais, “Lado a Lado” vai tratar também da emancipação feminina por meio das personagens Laura e Isabel, consideradas à frente de seu tempo. “Falta ainda conquistar uma maneira de ser livre sem negar a nossa natureza feminina”, diz Patrícia.

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O pano de fundo da belle époque carioca, com suas revoltas sociais e a mistura de culturas que gerou o samba, a capoeira e o futebol, levou a um cuidado especial com a direção de arte. Um dos destaques do cenário é uma réplica da rua do Ouvidor, montada nos estúdios do Projac, e a reconstituição de ângulos do Rio Antigo, feitos em externas na cidade de São Luís, no Maranhão, e em Petrópolis, na região serrana. Tudo isso para tornar mais convincente o contexto social em que transitam personagens como a vilã Constância. “A aurora do século XX foi marcada por metamorfoses extraordinárias, mas ainda existia um resquício do racismo e o preconceito em relação ao trabalho, especialmente por quem auferia lucro com a mão de obra escrava”, afirma João Baptista Mello, geógrafo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).  


Fotos: Renato Rocha Miranda/TV globo; divulgação

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