Mestre do suspense e de tramas policiais, o cineasta inglês
Alfred Hitchcock tinha uma tese interessante – as mulheres são melhores que os homens para desvendar crimes cruéis, complicados e misteriosos. Hitchcock se referia às personagens femininas de seus filmes. No campo da literatura, a sua constatação vale também para o mundo real, ou seja, ajusta-se às próprias escritoras de livros policiais – elas têm um estilo acurado para contar e resolver crimes. Basta lembrar os nomes de Agatha Christie e Patricia Highsmith, duas grandes damas da literatura policial. Não é por acaso, portanto, que três mulheres de gerações e países diferentes estão levando adiante essa tradição: a inglesa P. D. James, a brasileira Patrícia Melo e a americana Patricia D. Cornwell. Os mais recentes livros dessas três autoras são, respectivamente, O farol, Mundo perdido e A mosca-varejeira, e os três chegam nesta semana às livrarias com edição da Companhia das Letras. Quanto aos personagens, o comandante Adam Dalgliesh (criado por P. D.James) e a dra. Kay Scarpetta (invenção de Patricia Cornwell) enfrentam na ficção o 13º caso de suas carreiras, enquanto Máiquel, assassino de aluguel com uma identidade tão difusa quanto os seus valores morais, aparece pela segunda vez nesse sexto romance de Patrícia Melo. Ele é um homem aparentemente insensível e nasceu para o mundo da literatura em O matador (1995), segunda obra de Patrícia. Fez sucesso e foi então levado às telas dos cinemas como O homem do ano (2002), com o ator Murilo Benício encabeçando o elenco sob a direção de José Henrique Fonseca, filho do escritor Rubem Fonseca – o grande ídolo de Patrícia, tanto que, à maneira de seu mestre, ela também situa o leitor dentro da cabeça do criminoso. Dessa vez, Máiquel não é um assassino de aluguel, não tem de matar ninguém em troca de dinheiro. Ele quer somente rever Samanta, sua filha de 11 anos que foi seqüestrada pela ex-mulher. A moça agora é casada com Marlênio, bispo picareta de uma igreja mais picareta ainda, a quem Máiquel mataria friamente – e ainda que fosse de graça. Assim é, em rápido enfoque, o Mundo perdido, de Patrícia Melo.

Em O farol, a escritora Phyllis Dorothy James, que assina P. D. James, mantém a classe britânica e seus romances seguem a linha imortalizada por Agatha Christie: os personagens geralmente pertencem às altas classes sociais ou até mesmo à aristocracia, e o narrador observa a cena como em um filme. A exemplo de Hercule Poirot (o detetive belga criado por Agatha), o comandante Dalgliesh, da obra de P. D. James, vê-se na história diante de fatos consumados e limita-se a observá-los. Alimenta sua argúcia com as pistas deixadas pelos criminosos e as reações dos suspeitos – ou seja, ele tem, sobretudo, um raciocínio dedutivo. A autora lançou o seu primeiro livro, O enigma de Sally, já protagonizado por Dalgliesh, em 1962, ano em que Patrícia Melo nasceu. Mas aos 86 anos Phyllis prova que ainda continua esperta na construção de complicadas tramas. O cenário de O farol é a ilha de Combe, na costa da Cornualha, que funciona como um resort para ricos estressados. É um homem com essa característica que é a vítima da história, o escritor de best-sellers Nathan Oliver.

Vítimas é o que não falta nos romances de Patricia Cornwell, protagonizados pela dra. Kay Scarpetta. Seus vilões são invariavelmente assassinos em série do pior tipo, daqueles que costumam entrar em contato com as autoridades para demonstrar sua superioridade quando se trata de fazer maldade. Segundo os aficionados de Patricia Cornwell, é justamente aí que reside a principal falha de sua nova obra, Mosca-varejeira. A autora parece ter caído na armadilha da repetição. Aos 50 anos e considerada um gênio na gestão de sua fortuna, trajando sempre roupas exclusivas e passeando a bordo de possantes helicópteros, Patricia parece não mais saber o que fazer com sua personagem. Inspiradora da consagrada série televisiva C.S.I., ela criou a dra. Kay Scarpetta à sua imagem e semelhança em Postmortem (1990). O sucesso foi tão grande nessa obra e nas seguintes que agora dá a impressão de que a personagem não tem nada de novo a fazer ou a conquistar – ou, pelo menos, de que os crimes não mais a estimulam.