Os guias turísticos de Nova York devem fazer múltiplas correções em suas próximas edições. Apague-se a noção de que a Estátua da Liberdade é um monumento nacional. Corte-se também a ponte do Brooklyn, o Empire State Building e o prédio da ONU. Na verdade, a cidade não tem nenhuma obra artística de grande vulto. Quem determinou esta desclassificação foi ninguém menos que o Department of Homeland Security (Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos), ao justificar o corte de US$ 83 milhões na verba dada a cidades para financiar ações de contraterrorismo. Na alocação do orçamento anual de US$ 1,7 bilhão para esse fim, também saíram perdendo a capital, Washington, o importante porto de San Diego (Califórnia) e a cidade das siderúrgicas, Pittsburgh. Saíram com os cofres abarrotados Estados como Oklahoma – que se pensava ser apenas um idílico território de pecuária – e seu vizinho Idaho, considerados áreas de risco pelo departamento.

“O país todo está sob ameaça. É preciso dividir melhor as alocações. Existem Estados com instalações críticas para a economia, como as refinarias de petróleo do Texas”, diz o subsecretário George Foresman. Isso, é claro, não quer dizer que as autoridades locais vão usar a dinheirama exclusivamente na proteção de propriedades da Exxon-Mobil e outras empresas de combustíveis. Para o festival de cogumelos da insuspeitada cidadezinha de Madisonville, naquele Estado, por exemplo, foram destinados US$ 30 mil para a compra de um trailer que servirá de centro de vigilância durante os festejos em outubro. Enquanto Nova York perdeu um terço de sua verba, ficando com US$ 125 milhões, uma vila pesqueira do Alasca (população de 2.400) ganhou US$ 200 mil para a instalação de câmeras de vigilância. No Estado do Kentucky – um dos que ganharam mais neste repasse –, US$ 36.200 foram reservados apenas para proteger de ataques um salão de bingo. Ohio comprou coletes à prova de bala para todos os seus cães policiais. Em Dakota do Sul, US$ 29.995 foram destinados para a construção de bilheterias de uma feira agrícola. Num bucólico pasto de Wyoming, US$ 200 mil serviram para colocar câmeras de segurança que permitem a vigília de vacas de corte, 24 horas por dia.

Irados, os políticos nova-iorquinos, democratas e republicanos, do governador George Pataki ao prefeito Mike Bloomberg, denunciaram o contra-senso das alocações. A senadora Hillary Clinton e o deputado republicano Peter King bem que tentaram convencer o secretário de Segurança Interna, Michael Chertoff (um nova-iorquino da cepa) de que a Big Apple tinha monumentos dignos de proteção. Enviaram-lhe cartões-postais da Estátua da Liberdade, da ponte do Brooklyn, do Empire State, do Yankee Stadium, do Times Square, e outros pontos turísticos, com a mensagem: “Gostaríamos que você estivesse aqui.” Pelo jeito, Chertoff não vai dar as caras na área por um bom tempo.