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Nos turbulentos anos 70, o italiano Cesare Battisti integrou uma organização extremista denominada Proletários Armados pelo Comunismo (PAC). Foi condenado à prisão perpétua na Itália sob a acusação de ter participado de quatro homicídios, o que ele sempre negou. Há dias, Battisti foi preso no Rio de Janeiro numa operação conjunta da polícia francesa e da PF brasileira.

Intelectuais e políticos, como o deputado Fernando Gabeira – ele mesmo um ex-guerrilheiro –, se articularam para pedir que o STF negue o pedido de extradição de Battisti. O gesto solidário pode parecer estranho para as novas gerações, acostumadas a associar “terrorismo” à matança indiscriminada de civis. Mas nos anos 60 e 70 a chamada “luta armada” tinha um significado, digamos, mais “nobre” do que as ações hoje perpetradas por homens-bomba. No Terceiro Mundo, impedidos de se manifestar por canais políticos normais, muitos jovens pegaram em armas para lutar contra ditaduras. Foram massacrados. Na Europa Ocidental, grupos de esquerda radical tentaram “atingir o coração” de um Estado que supunham “unidimensional”, totalitário, embora formalmente democrático. Só ajudaram a aumentar o poder do Estado sobre os cidadãos.

Como encarar a questão? É verdade que muitos militantes jamais abandonaram o moralismo idealista e autoritário. Seus gurus hoje são Fidel Castro e Hugo Chávez. Mas a maioria dos ex-ativistas deu adeus às armas e aceitou as regras do jogo democrático, como o próprio Gabeira, Joschka Fisher (ex-ministro do Exterior da Alemanha) e Antonio Negri (ex-integrante das Brigadas Vermelhas). Políticos como estes preservaram a generosidade de sentimentos que os empurrou à luta, mas romperam com o messianismo que produz monstros. Afinal, como lembrou Umberto Eco, o verdadeiro herói é sempre arrastado pelas circunstâncias e, se pudesse escolher, não seria herói.