Com maus hábitos históricos, servidores públicos vão para o confronto e testam a força da presidenta Dilma. Resistem à perda de privilégios, gritam e cruzam os braços por inacreditáveis reajustes de seus salários – na maioria dos casos em patamares que equivalem ao triplo do índice da inflação verificada no período (até 45%, pedem os extremistas). Que categoria hoje na iniciativa privada seria capaz de pleitear e angariar o mesmo? Não é exequível tamanha pretensão. O funcionalismo seguiu por décadas boiando em berço esplêndido, amparado pela benesse da estabilidade de emprego, operando serviços essenciais com pendores a chantagem quando os “patrões” – no final da cadeia, os próprios contribuintes que pagam os impostos e bancam a farra – não concordavam com as suas exigências. Evoluiu, até aqui, confortavelmente atendido em seus pleitos por seguidos governos. Não esperava a rebordosa da mandatária com pulso para dar um basta ao gasto desmedido do País com a folha. Os servidores públicos estão fulos da vida com medidas ousadas como o corte do ponto, o congelamento de quadros, a suspensão dos pagamentos durante as paralisações e punições exemplares que podem chegar às raias da demissão sumária. Estão também enfurecidos por fatores revolucionários, como a recente política de transparência e divulgação de seus ganhos. Não toleram a ideia de serem tratados como iguais, embora Dilma tenha dado um recado inequívoco a eles quando disse que “este é um país que tem de ser feito para a maioria de seus habitantes, não apenas para uma parte deles”. As várias categorias da área pública foram surpreendidas pela predisposição da presidenta em não negociar na base da pressão. Professores e técnicos de universidades, por exemplo, ficaram três meses parados, certos de que dobrariam a resistência oficial. Em vão. Tiveram que ceder e ainda podem sofrer consequências pelo desastre provocado na rede nacional de ensino e pelos prejuízos aos estudantes. Diga-se de passagem que nos últimos tempos muito já foi feito para melhorar a relação entre o Estado e seus servidores. A criação dos fundos de pensão está no rol dos avanços. Dilma concedeu inéditos benefícios, mas nenhum deles foi além do legal e justo. E eis a diferença lapidar no relacionamento com uma das mais poderosas forças trabalhistas do País. O conceito de que os boicotes não levarão a nada. A nova ordem veio para ficar.