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DISCRETO
FHC diz preferir acompanhar de longe, ao contrário de Lula:
"Nunca fiz (campanha)"

Em 2010, logo após a terceira derrota seguida do PSDB para o PT na disputa pela Presidência da República, o candidato José Serra fazia, no comitê de campanha dos tucanos, uma confissão de culpa. Reconhecia que ter deixado o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fora da propaganda eleitoral tinha sido um erro. Sem assumir o principal legado histórico do partido – os dois mandatos de FHC –, o PSDB se apresentara ao eleitor vazio de identidade. Escondendo os princípios da era tucana, parecia não dispor de um programa de governo consistente para o País. Dois anos depois, apesar dos discursos, a estratégia do ocultamento se repete. FHC sumiu da campanha municipal de Serra e não aparece também nas mais importantes campanhas dos tucanos às prefeituras. Um frio pragmatismo parece estar por trás disso: “A tática de esconder seu ‘símbolo’ é respaldada em pesquisas”, afirma o consultor político Gaudêncio Torquato. “Evidentemente, do ponto de vista eleitoral a participação de FHC não é fundamental, porque não agrega novos votos.” Já Felipe Salto, professor da Fundação Getulio Vargas, acredita que, ainda que não apareça na tevê ao lado dos candidatos, FHC está presente na campanha quando emite suas opiniões em palestras como a que deu na Bienal no sábado 18, por exemplo. “Sua postura é correta, porque deixa o partido se renovar”, afirma.

Os tucanos evitam o constrangimento da decisão eleitoral alegando inapetência do próprio FHC. “O partido quer que ele apareça mais, mas ele tem uma agenda extensa de compromissos”, diz Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB. Na semana passada, questionado sobre a diferença que vê entre o uso de sua imagem e a larga exposição que o PT tem dado a Lula, FHC foi na mesma linha: “Ele (Lula) sempre fez isso. Eu nunca fiz.” A preferência por uma postura de estadista se contrapõe à “inconveniência” de Lula, dizem os tucanos. “Lula virou o palpiteiro geral do Brasil, dá opinião até na Seleção de futebol”, diz o deputado federal Eduardo Gomes. Nem todo mundo pensa igual. A exemplo de Aloysio Nunes, eleito para o Senado com 11 milhões de votos com o apoio da exibição diária de um vídeo estrelado pelo ex-presidente em 2010, o candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro Otavio Leite pediu a FHC que gravasse um depoimento para sua campanha. “Ele foi muito incompreendido em alguns momentos da vida pública, mas hoje há um consenso de que se trata de um grande estadista, como a própria presidenta Dilma reconhece”, diz. Seu pedido foi prontamente atendido por FHC.

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Foto: Murilo Constantino/Ag. Istoé