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DE PAI PARA FILHO?
Marcos Lula, com 9 anos, ao lado dos pais, Marisa Letícia
e Lula, durante a greve no ABC em 1980

Enquanto 105 candidatos pelo Brasil reivindicam o direito de adotar o apelido “Lula” em suas campanhas políticas, o empresário Marcos Cláudio da Silva – o Marcos Lula – é o único que pode oficialmente usar esse nome. Filho do primeiro casamento da ex-primeira-dama Marisa Letícia, ele não chegou a conhecer o pai biológico, assassinado durante sua gestação. Aos 2 anos, Marcos Lula passou a morar com o ex-presidente, que o registrou e o criou como filho. Hoje, com 41 anos, tenta se eleger vereador pelo PT em São Bernardo do Campo, cidade da Grande São Paulo e berço do sindicalismo que levou um torneiro mecânico ao comando do País. De forma discreta, o ex-presidente tem se envolvido na campanha. Até agora, participou de dois eventos. Na inauguração do comitê, apareceu de surpresa e discursou ao lado de outros políticos. Também esteve em um jantar fechado com a comunidade muçulmana. “Com ele não tem frescura”, diz Marcos. “Se for para pedir voto na rua, vai pedir. Mas ele tem que ajudar os candidatos a prefeito. Não dá para fazer vereador em cada cidade.”

Ao volante de um Astra 2008, Marcos Lula chega adiantado para mais um compromisso de sua agenda política, marcado para as 15h30 do sábado 18. Ao contrário do patriarca, famoso por cativar multidões, a presença dele não altera a rotina nas imediações do escadão da rua Unidos do Anchieta, área mais pobre do bairro Vila Euro. Crianças descalças permanecem jogando taco no meio da via. Perto dali apoiadores com bandeiras em punho o aguardam. Além de militantes, a equipe da campanha, orçada em R$ 300 mil, é formada por cerca de 50 funcionários. Marcos Lula usa camisa com as mangas arregaçadas, calça jeans e um sapato preto gasto. No dedo anelar da mão esquerda, a aliança da união com Carla Trindade, mãe de seu filho de 16 anos. Legalmente divorciado, o casal reatou relações em 2009. O semblante cansado do candidato revela a febre que o abateu na madrugada. “Campanha é assim, tem de ir para a rua”, diz, revelando um jeito tímido que destoa do estilo do pai famoso.

Na briga por uma cadeira na Câmara, Marcos Lula comparece, em média, a seis compromissos por dia, entre atos públicos e reuniões fechadas. Nos bastidores da campanha, trabalha-se para angariar de 5 a 7 mil votos, o que o colocaria entre os puxadores de voto do PT ao lado de Tião Mateus e Toninho da Lanchonete. Sua estratégia é intensificar ações em regiões onde foi bem votado na eleição de 2008, marcadas em um mapa no QG da campanha. Com a candidatura impugnada devido ao grau de parentesco com o então presidente Lula, ele obteve cerca de 2.900 votos, número próximo ao alcançado pelos vereadores eleitos. “A gente soube que teve seções em que a pessoa ia votar e o meu nome não aparecia”, conta. Assim como na campanha de 2008, o apoio do ex-presidente ao filho tem causado ciúme dentro do PT local. Quem participa com frequência de atos da campanha é a mãe, Marisa Letícia, que mandou até adesivar o carro da família.

Mancando da perna esquerda – reflexo de uma deformidade de infância que o obrigou recentemente a colocar uma prótese no quadril –, Marcos Lula desce o escadão da rua Unidos da Anchieta. Lá embaixo, uma kombi alterna nos alto-falantes o jingle da campanha com uma mensagem do ex-presidente: “Elegendo o Marcos é como se vocês me dessem a oportunidade de provar que eu sei ser vereador”, diz a voz de Lula. Guiado por militantes, Marcos percorre casas e comércios. Sistematicamente, usa a mesma abordagem. De maneira tímida, pede licença, se apresenta falando baixo, entrega um cartão de visita e despede-se com um aperto de mão seguido de um tapinha nas costas. Ao contrário do pai, ele escuta mais do que fala e tem aversão a palanques. Durante as quase duas horas em que permaneceu na região, foi abordado por sete eleitores a respeito do ex-presidente. Na maioria das vezes, após responder que Lula está liberado pelos médicos para fazer campanha, o são-paulino Marcos Cláudio também foi questionado sobre os rumos do Corinthians, time pelo qual torce o ex-presidente.

Por volta das 16h30, Marcos Lula parte para o corpo a corpo com comerciantes em outro bairro. Enquanto fala com os eleitores, um locutor narra, pelos alto-falantes de uma caminhonete S10 emprestada, a biografia dele. É apresentado como designer gráfico, psicólogo e ex-diretor de Turismo e Eventos de São Bernardo do Campo, cargo que deixou para concorrer à eleição. Único dos cinco filhos de Lula a enveredar para disputas eleitorais, Marcos Lula brinca que sua iniciação na vida política se deu quando era criança. Nas greves do ABC comandadas pelo pai, ele era presença constante. Esteve, em 1980, no episódio do Estádio da Vila Euclides, em que helicópteros do Exército faziam rasantes enquanto Lula e outros sindicalistas discursavam. “Na criação do PT, eu tinha 9 anos e ajudava a separar as fichas de filiação”, diz. Questionado até onde almeja chegar, o filho do ex-presidente se esquiva: “Tudo depende do momento político”, responde baixinho.

"O Lula ajuda"

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O filho mais velho do ex-presidente fala sobre a presença do pai em sua campanha e de seu futuro político:

ISTOÉ – Quando o sr. percebeu que ia enveredar para a política?
Marcos Lula –
Acho que isso já está com a gente. Minha primeira participação política foi aos 4 anos, quando o meu pai era líder sindical. Na criação do PT, em 1980, eu tinha 9 anos e já ajudava a separar as fichas de filiação para mandar a São Paulo. Você começa a trabalhar nos bastidores, ajudar na campanha. É um caminho natural.

ISTOÉ – O ex-presidente Lula tem participado de sua campanha a vereador em São Bernardo do Campo?
Marcos Lula –
Já está ajudando. Na inauguração do comitê da campanha ele esteve presente. Com ele não tem frescura. Se for para pedir voto na rua, vai pedir quando der. Mas ele tem de ajudar candidatos a prefeito. Não dá para fazer vereador em cada cidade. A minha mãe, que está mais tranquila, participa mais.

ISTOÉ – E como é a participação dela?
Marcos Lula –
Minha mãe está sempre com a gente, participando de reuniões. Mas ela não gosta de falar, de jeito nenhum.

ISTOÉ – Ter o Lula como cabo eleitoral causa ­ciúme?
Marcos Lula –
Dá uma ciumeira até dentro do próprio PT, mas considero normal. Nós e eles (outros candidatos) vamos assimilando. Você pode ver que a gente (os petistas postulantes à Câmara Municipal de São Bernardo) se trata muito bem.

ISTOÉ – O sr. almeja outros cargos, como o de prefeito?
Marcos Lula –
Tudo depende do momento político. Isso é o que vai dizer se devo ser candidato a prefeito ou a deputado para continuar ajudando. Eu não penso em cargos, mas sim se posso ou não ajudar as pessoas.