O que o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) mais temia aconteceu. O Conselho de Ética do Senado abriu a investigação na quinta-feira 27 ouvindo o delegado Gesival Gomes, da Polícia Federal, que comanda o inquérito do megagrampo baiano feito contra 232 inimigos ou desafetos do senador. Durante quatro horas, o delegado escorregou como pôde para não ficar sob a suspeição de pré-julgamento. Depois de interrogar 28 pessoas e indiciar cinco policiais, Gomes tem ainda um extenso calendário até o dia 9 de maio, prazo para a conclusão do inquérito. Ele pretende ouvir outras 22 pessoas, deixando ACM para o final da fila. O que Gomes não pôde contar é que a PF já possui provas que permitem o indiciamento do senador. Não se sabe quando isso será feito, mas já se sabe qual o principal crime de ACM: formação de quadrilha. As principais provas, além dos depoimentos, são o resumo dos grampos, com anotações de próprio punho de ACM, e os ofícios disparados por ele aos ministros do governo FHC com base em informações da escuta clandestina – ambos publicados por ISTOÉ. Gomes deixou um recado aos senadores: “As pessoas foram indiciadas quando foram ouvidas. Só posso me manifestar sobre o senador Antônio Carlos Magalhães quando ouvi-lo.”

A senadora Heloísa Helena (PT-AL) está requisitando cópia com o resumo dos grampos e também os fax encaminhados por ele a vários ministros a partir do telefone do Correio da Bahia, o jornal da família. Outras provas são os requerimentos de informação solicitados pelo senador Antônio Carlos Júnior, filho de ACM, a seis ministérios no ano passado. As dez informações coincidem com o conteúdo dos grampos. Alguns pefelistas já estendem a mão para a toalha. O senador Demósthenes Torres (PFL-GO) ensaia seu desembarque da tropa de choque. No final da sessão que ouviu o delegado, Torres foi explícito: “Não quero que o Senado e o Conselho
de Ética fiquem execrados por causa da atitude de um senador.” O tumulto partiu da tentativa do PFL de derrubar o plano de investigação traçado pelo relator, Geraldo Mesquita (PSB-AC). O principal escudeiro
de ACM, senador Rodolfo Tourinho (PFL-BA), chegou a propor que os jornalistas de ISTOÉ só fossem ouvidos após o depoimento à PF. O
relator bateu de frente com os carlistas e ameaçou renunciar: “Se tiver condições de prosseguir na investigação, no caminho que sugeri, prossigo. Senão, o Conselho tem liberdade para escolher outro
relator.” A ameaça esvaziou de vez a manobra.

O Conselho ouve na próxima semana os dois jornalistas de ISTOÉ que vêm fazendo as reportagens que denunciam o envolvimento de ACM com os grampos. Geraldo Mesquita quer ouvir também o deputado  Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) – principal personagem dos grampos – e o técnico Alan Farias, da Secretaria de Segurança da Bahia, indiciado com o delegado Valdir Barbosa como executor da arapongagem. E Heloísa Helena não abre mão do depoimento da ex-amante de ACM, Adriana Barreto, e do atual marido, o advogado Plácido Faria. Com tantas notícias indigestas, o estômago do senador não resistiu: na quarta-feira 26, na sessão da Comissão de Constituição e Justiça, passou mal, foi retirado da sala sob um acesso de espirros e, em
seu gabinete, vomitou. “Foi uma crise alérgica”, disse depois. Amigos viram um fundo nervoso, que antecipa o mal-estar inevitável com
os próximos capítulos da investigação.