O Brasil não pára de crescer. Só que o crescimento registrado pela pesquisa Indicadores Sociais Municipais de 2000, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não chega a ser uma boa notícia. Constatou-se que, nos últimos dez anos, o número de municípios brasileiros subiu de 4.491, em 1991, para 5.561, no ano passado – um crescimento de 23,8%. A maioria dessas novas cidades tem até cinco mil moradores, e foram criadas sob a inspiração da descentralização administrativa, que a Constituição de 1988 estimulou. As pequenas cidades nascem com baixo desempenho em indicadores básicos: geram pouca renda, têm saneamento precário e educação incipiente. Essa pulverização de municípios é uma das principais constatações da pesquisa do IBGE, que foi lançada na última semana.

A socióloga e gerente de Indicadores Sociais do Departamento de População e Indicadores Sociais do IBGE, Ana Lúcia Sabóia, critica essa tendência. “Dos municípios recém-nascidos, 86,8% são considerados pequenos e muito pobres. É uma falácia imaginar que criar uma cidade
é a melhor forma para atrair recursos públicos.” Se o esgotamento sanitário é um serviço bastante precário no País, o problema se agrava quando são considerados apenas os novos municípios: 51,8% deles, todos na zona rural, não dispõem de nenhum tipo de esgoto.

Além da multiplicação das prefeituras, a pesquisa traz dados relativos a outros assuntos. Cresce cada vez mais o número de lares chefiados por mulheres. Entre os 31 maiores municípios (mais de 500 mil habitantes), 31,3% dos lares são sustentados por mulheres – que costumam ganhar cerca de 30% menos que os homens. Com trabalhadores com pouco dinheiro no bolso e muitos filhos para criar, não chega a ser uma novidade a constatação de que o índice de analfabetismo no País continua preocupante. As maiores taxas foram registradas nos municípios de até cinco mil moradores. Cerca de 13% da população brasileira (17,5 milhões) continua analfabeta. Dos 1.382 municípios com até cinco mil habitantes, 423, ou aproximadamente um terço (30,6%) deles, possuem rendimento médio de cerca de um salário mínimo. Enquanto isso, o rendimento médio das cidades maiores, as com mais de 500 mil habitantes, era de R$ 300.

O Rio Grande do Sul foi o Estado onde mais municípios foram criados: 164. No extremo oposto do País, coube ao Piauí ficar com o segundo lugar no ranking: lá foram criadas 104 cidades. O Amazonas foi o único Estado da Federação que não criou, na última década, nenhum nova prefeitura.

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