A Varig conheceu na semana passada sua maior aliada para sair da crise: a própria Varig. O problema é que isso é pouco. Diante de um hangar lotado por presumíveis interessados na compra da companhia, no leilão realizado na quinta-feira 8 dentro do aeroporto Santos Dumont, o martelo foi batido para uma oferta de US$ 449 milhões, feita pela cooperativa Trabalhadores do Grupo Varig (TGV). Representou menos da metade do lance mínimo exigido. Nenhuma oferta veio do mercado nacional, representado no leilão por executivos das concorrentes TAM, Gol e Ocean Air. Nenhuma novidade se confirmou no mercado internacional, onde o magnata russo Boris Beresovski não mandou proposta em seu nome nem no de terceiros. Do governo federal, ecoou o silêncio. Com as ausências, o juiz Luiz Roberto Ayoub viu-se na circunstância de aceitar a proposta ou decretar a falência da companhia. “Não queria estar na pele dele”, assinalou o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira. O leilão, que parecia anunciar uma saída para a longa agonia da empresa, manteve a Varig no mesmo ponto de sua encruzilhada.

As ações da companhia caíram 58% depois da oferta feita pelo TGV. O mercado interpretou que o grupo não tem força financeira suficiente para gerir o dia-a-dia da empresa, atolada em dívidas bilionárias, que vencem praticamente todos os dias. Não haveria, da parte do grupo, capital de giro para tocar o negócio. Estimada em R$ 7 bilhões, a dívida faz com que na prática, nos últimos tempos, não passe um mês sem que se anunciem tentativas ou efetivos arrestos de bens da companhia, como aviões e turbinas, para o pagamento de compromissos. O governo federal, que poderia ter apanhado uma carona na oferta do grupo de trabalhadores, incentivando a compra com uma possibilidade de crédito ou plano de recuperação, simplesmente cruzou os braços. O que se discutia no Palácio do Planalto, na sexta-feira pós-leilão, era como ficaria o mercado depois da falência da companhia. Nenhuma iniciativa para que uma das principais marcas do Brasil no Exterior continuasse voando. Nada. O ministro da Defesa, Waldir Pires, emitiu um lacônico “fizemos todo o possível”, a respeito dos planos oficiais que nunca ficaram claros para a opinião pública, bem ao contrário, sempre cercados por mistérios e interesses cruzados.

Sem as atenções do governo, a postura das concorrentes da Varig passou a ser
de expectativa sobre a falência. Na verdade, uma silenciosa torcida para que isso aconteça. Com a Varig fora do mercado, rotas nacionais cobiçadas, como a da
ponte aérea Rio–São Paulo, e vários destinos internacionais, nos quais a companhia tem exclusividade, ficarão à disposição de negociações. “Tudo vai
cair no colo das empresas por um preço infinitamente menor do que o pedido no leilão”, diz o brigadeiro Pereira. Além disso, permanecerá sem solução de curto prazo a situação dos 11 mil funcionários da companhia, no que promete ser uma
das mais dramáticas agonias trabalhistas já vistas no País – proporcional à agonia financeira da própria Varig.