No escândalo viveu o Brasil dos últimos meses. Evoluiu para o crime organizado e, na semana passada, como uma apoteose patética da fragilidade ética que consome o País por esses tempos, assumiu ares de baderna, absoluta e ofensiva. Desmoralizado o poder constituído – por várias acusações de má conduta que, numa revoada sem fim, deixa marcas no Parlamento, no governo e até na Justiça –, oportunistas estão se sentindo à vontade para fazer o que dá na telha, quando e como bem entendem, sem nenhum freio. O que se viu na semana passada foi um espetáculo deplorável. Merecia o rigor das punições, mas até essas estão fora de uso por aqui. Na Brasília que segue o clima petista do “já ganhou”, um grupo de arruaceiros tomou o Congresso – símbolo da democracia – na marra. Depredou, atacou e deixou vítimas. O ato foi uma provocação a toda a sociedade, que é, afinal, dona legítima da Casa. A infinita condescendência brasileira tem sido, aliás, como nunca antes, posta à prova por esses dias. Bandidos dão tiros em policiais, agitadores quebram o Parlamento, assassinos confessos encontram brechas na lei para se safar da condenação e deputados acertam absolvições amplas e irrestritas para seus “pequenos” deslizes. Onde foi parar a dignidade nacional? Entre resignada e perplexa, a sociedade parece assistir, refém, à consagração de um novo padrão de comportamento. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) resumiu assim os últimos episódios: “É o vandalismo típico de um Estado anárquico.” O ilegal e o imoral querem virar lugar-comum. Mensaleiros pegos no pulo sentem-se à vontade para tentar de novo as urnas nas próximas eleições. Acusados do esquema, João Paulo Cunha, José Mentor e Professor Luizinho já receberam sinal verde do Partido dos Trabalhadores para compor a chapa oficial – além do próprio ex-presidente do partido José Genoino, que “assinou sem ver” o valerioduto. Num outro front, Lula adota a tática de negar o mensalão e o jurista Miguel Reale Júnior, em artigo à Folha de S.Paulo, define a postura como um “escárnio”. Em suas palavras, o presidente “pisoteou sobre o que nos resta de sentimento de dignidade”. Já é passada a hora de o País dar a volta por cima.