Nas duas primeiras semanas de julgamento da Ação Penal 470, nada foi tão interessante quanto a decisão tomada em favor de Carlos Alberto Quaglia, que era acusado de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, por, supostamente, ter agido como doleiro do empresário Marcos Valério. De todos os 38 réus, era o único que, sem dispor de recursos para contratar estrelas da advocacia, vinha sendo defendido por um defensor público, chamado Haman Córdova. Quaglia foi também o único a obter uma vitória no Supremo Tribunal Federal: como teve a defesa cerceada, seu processo voltou para a primeira instância, onde recomeçará da estaca zero.

O caso traz uma lição para todos os demais réus. Advogados, quando, além de caros demais, são também marqueteiros dos próprios honorários, em nada contribuem para a presunção de inocência dos clientes. Afinal, o discurso dos principais acusados é de que tudo não passou de financiamento de campanha – e que não houve enriquecimento pessoal. Mas, se é assim, de onde vem o dinheiro dos honorários dos advogados, quase sempre na casa dos seis dígitos?

A transformação de criminalistas em popstars é um fenômeno recente, ligado à era das grandes operações da Polícia Federal. Como figuras midiáticas foram acossadas pela PF, os criminalistas passaram a disputar espaços nos telejornais e revistas. Vaidosos, alguns acabaram abrindo seus honorários, que, em alguns casos, são incompatíveis com a renda ou o patrimônio declarado dos clientes.

O prejuízo não tem sido apenas dos réus do mensalão. Carlos Cachoeira está preso há quase sete meses, em grande medida, porque os honorários de R$ 15 milhões de seu primeiro advogado, Márcio Thomaz Bastos, foram alardeados na imprensa. Um preço que se aproxima mais da influência do que da advocacia. Sendo assim, que juiz teria coragem de soltá-lo? Um defensor público teria sido mais útil a Cachoeira do que um ex-ministro da Justiça.

Foi o Tufão?
Outro ponto alto da segunda semana do mensalão foi a atuação de Luiz Francisco Barbosa, defensor de Roberto Jefferson. O ex-deputado, que antes acusava José Dirceu de ser o “chefe da quadrilha”, agora ataca o ex-presidente Lula. É mais ou menos o seguinte: Jefferson, roteirista da “Avenida Brasil”, passa sete anos preparando o público para o fim trágico de Carminha (Dirceu, no caso). De repente, no último capítulo, muda tudo e avisa: “Não, não foi a Carminha, foi o Tufão.” O que o carimba como mentiroso. Não só agora, mas também em 2005. E isso dá um nó na acusação, que o tem como principal testemunha.