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CONSUMIDOR
Homem experimenta pistola semiautomática numa loja de Las Vegas

Segunda-feira 13, 12h30, cidade de College Station, Texas, Estados Unidos. O site da Universidade A&M exibe um alerta para que os estudantes não se aproximem do estádio de futebol do campus, onde um atirador abre fogo. O homem identificado como Thomas Alton Caffall III disparou a esmo por cerca de 30 minutos até ser baleado e morto pela polícia. A ação, que deixou dois mortos e três feridos, é o terceiro atentado com armas de fogo que ocorre nos EUA em menos de um mês. Em um país que garante o porte de armas como um direito constitucional, isso não é uma coincidência. Estatísticas oficiais indicam que há 300 milhões de armas nas mãos de civis – o equivalente a uma para cada habitante. O momento, portanto, não poderia ser mais propício para reabrir o debate e discutir o endurecimento das regras para o comércio e o porte de armamentos no país. “Talvez essa seja a questão mais trágica e surreal para a política americana”, disse à ISTOÉ Saul Cornell, professor de história da Universidade Fordham, de Nova York, e uma das maiores autoridades do país no assunto.

Enquanto poucos estão dispostos a abrir mão da facilidade de adquirir armas, a resposta dos americanos parece seguir na contramão do bom-senso. Nas semanas seguintes ao massacre no cinema de Aurora, Colorado, onde 12 pessoas morreram, as vendas de armas no Estado aumentaram 30% em relação ao mês anterior, segundo o relato de comerciantes à rede CBS Denver. O perfil dos novos compradores inclui mulheres e idosos, que veem no objeto uma forma de se proteger contra futuros ataques. O mesmo movimento aconteceu no ano passado após um tiroteio em Tucson, Arizona, que deixou seis vítimas e feriu a congressista Gabrielle Giffords. Some-se a isso o fato de que, em anos eleitorais, as vendas são alimentadas pelo temor de que o próximo governo dificulte o acesso às armas. 

Obama segue com um discurso ameno, porque o tema é especialmente caro aos democratas. Para Robert J. Spitzer, professor de ciência política da Universidade SUNY Cortland, evita-se um debate político direto, porque esse é um assunto que divide a opinião pública – há 20 anos, as pesquisas mostram que o apoio a leis mais rígidas tem caído. “Muitos atribuem a derrota de Al Gore para ­George W. Bush em 2000, justamente por ­Gore defender novas regras para as armas”, afirmou à ­ISTOÉ. Spitzer, que é autor de quatro livros sobre o controle de armas, disse que a tendência é de os atuais candidatos à Presidência, Obama e o republicano Mitt Romney, desviarem o foco para outros assuntos, como a economia. Nesse cenário, o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, emergiu como a principal voz a favor de mais restrições e chegou a pedir que os policiais entrassem em greve. “Estamos fazendo de tudo para dificultar o trabalho deles e deixá-lo mais perigoso, ao dar armas nas mãos de quem não deveria tê-las.”

A maioria das leis em relação às armas não tem validade para todo o território americano. Mesmo a idade legal é um critério que varia de um Estado para outro. A verificação de antecedentes criminais não se aplica para as vendas privadas e, em muitos lugares, não há limites para o número de armas compradas de uma vez só, o que facilita o trabalho de potenciais criminosos. Para Saul Cornell, o resultado desse sistema é cruel. “As vítimas mais prováveis da violência das armas são homens negros que vivem em áreas urbanas. Se mudássemos a regulação, haveria menos mortes e definitivamente menos massacres”, disse.

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