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Acaba de chegar às livrarias um livro-enciclopédia que é um deleite para os olhos e fonte preciosa de conhecimento sobre a formação da mais longa costa tropical do mundo. Com 289 páginas, Litoral do Brasil (Metalivros, R$ 120) tem 193 magníficas imagens colhidas por 48 fotógrafos, textos em português e inglês, além de 60 reproduções de satélite dos oito mil quilômetros de litoral brasileiro – seis mil deles só de praias. A obra é assinada pelo geógrafo paulista Aziz Ab’Sáber, 77 anos, que este ano ganhou o prêmio em Ciências e Meio Ambiente da Unesco, braço da Organização das Nações Unidas para cultura, educação e ciência, pelos mais de 300 trabalhos publicados sobre a geografia brasileira. A costa anda maltratada. Há ocupação desordenada, degradação estética, saturação de esgoto e de resíduos industriais. Os problemas ambientais foram citados na introdução do livro, mas Ab’Sáber preferiu dar destaque ao lado bom da história. Ainda há muita paisagem para apreciar e praia limpa para desfrutar.

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Aos que querem acumular sabedoria, o autor dá explicações sobre o surgimento de paisagens como a Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Que não nasceu baía, mas vale. Pesquisas da década de 40 já apontavam a existência de um rio, hoje submerso, que cortava o vale e encostava nas colinas da Ilha do Governador. A partir de imagens de satélite, o geógrafo descobriu vestígios da presença de um segundo rio que passava entre o Pão de Açúcar e os pontões de Niterói. “Foram esses dois cursos d’água que provocaram a erosão do vale, carrearam areia para a plataforma continental, criando condições para a formação das praias da baía”, constata Ab’Sáber. Há cerca de seis mil anos, conta o geógrafo, as elevações de temperatura provocaram o derretimento de geleiras e elevaram em três metros o nível do mar, alagando o vale da Guanabara e cobrindo os rios.

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Gonduana – Ab’Sáber também confirma a tese de que Brasil e África já fizeram parte de um mesmo continente, o Gonduana. Estudos dos planaltos brasileiros e da formação das bacias petrolíferas da plataforma continental sugerem que o perfil de nossa costa pode ser o resultado da fragmentação do Gonduana. O fenômeno ocorreu há 210 milhões de anos e provocou um gigantesco ingresso de água marinha entre os dois novos blocos continentais (Brasil e África), dando origem ao oceano Atlântico. A maior parte dos seis mil quilômetros de praias arenosas do litoral brasileiro está localizada em ambientes quentes e úmidos. Já no Rio Grande do Norte e Ceará, o clima semi-árido contribuiu para a formação de baixos vales e solos muito salinizados, de tal forma que basta reter a água do mar para o sal se acumular naturalmente, sob os efeitos do vento.

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O litoral brasileiro foi dividido em seis grupos. O primeiro compreende as praias do nordeste maranhense ao Rio Grande do Norte, com faixas de clima seco, elevada luminosidade, calor permanente, presença de nativos, pescadores e jangadeiros. Em seguida, vêm as praias com enseadas rasas que se estendem até o litoral de Maceió, com trechos florestados, clima quente e chuvas de inverno. Descendo no mapa, em direção ao Sul, surgem as praias com trechos longos de areia e campos de dunas. Depois, a costa do descobrimento, na Bahia, Espírito Santo e litoral fluminense. O ambiente tropical úmido do Sudeste proporciona a formação de baías e restingas, que reúnem as escarpas com florestas da serra do Mar até o litoral catarinense, onde a brisa aplaca o calor. Por fim, estão as praias do litoral gaúcho, com inverno rigoroso.

Deserto –

Um dos trechos mais deslumbrantes do Brasil, os Lençóis Maranhenses, no Delta do Rio Parnaíba, ainda permanece um mistério para Aziz Ab’Sáber. O litoral do Maranhão possui montanhas de dunas – chamadas de yardangs –, que reproduzem o mesmo cenário do deserto do Saara. Grãos de areia rolam com o vento ao longo dos 80 quilômetros de costa em direção ao interior do Estado e tombam com a gravidade, formando as montanhas. “Não foi feito um estudo que explique esse fenômeno. É importante um ecoturismo bem planejado, com uma sistemática proteção dos impactos ambientais”, alerta o geógrafo. Isso vale para todo o litoral paradisíaco brasileiro.


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