O Itamaraty vai apoiar a Embraer nas negociações feitas pelo governo da Colômbia para a aquisição de 40 aviões turboélice Super Tucano. A garantia é do ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer. “A encomenda das aeronaves chegou a ser suspensa pelo governo colombiano, e a ministra da defesa, Martha Lucia Ramirez, admitiu que poderia haver a opção pela modernização dos aviões da Força Aérea Colombiana, mas as negociações ainda estão em andamento”, disse o ministro a ISTOÉ, na quinta-feira 21. O chanceler afirmou ainda que o produto brasileiro atende às exigências de segurança estipuladas na licitação colombiana e o respaldo do governo brasileiro será assegurado à empresa através da promoção comercial diplomática. “Nós sabemos que vender avião civil já é complicado, e negociar aeronave militar é algo ainda mais complexo”, disse ele, lembrando o imbróglio entre a Embraer e a companhia canadense Bombardier, que se sentiu ameaçada pelo crescimento de sua concorrente brasileira, que hoje ocupa o quarto lugar entre os maiores fabricantes de aeronaves civis do planeta.

A declaração de Lafer foi elogiada pelo economista Roberto Gianneti, que deixou a secretaria-executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex). “É fundamental uma participação mais efetiva do governo nas negociações internacionais que envolvem empresas brasileiras, como ocorre em outros países, especialmente nos que defendem o livre comércio”, disse Gianneti.

As manifestações de Lafer e de Gianneti foram endossadas
pelo embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que também considera
que o episódio da Colômbia deve estimular o governo a escolher
o avião que pode beneficiar a indústria brasileira em termos tecnológicos e de oferta de empregos na licitação que a Aeronáutica realiza.
“Não basta a retórica”, diz Guimarães. “O governo deve fazer
o mesmo que o governo americano faz, ou seja: encomendar
aviões a sua indústria, e não criar empregos no Exterior.”

Deslealdade – Ao demonstrar sua indignação com a pressão americana para a suspensão da compra dos aviões EMB 314 Super Tucano da Embraer pela Colômbia, Gianneti – que ajudou a Embraer a exportar 14 aviões de treinamento Tucano para a Colômbia, em 1992 – declarou que “a interferência do comandante do Comando Sul dos Estados Unidos, general James Hill, contra o avião brasileiro foi desleal”. O comando sul-americano, que era sediado no Panamá, sempre teve um papel político na América Latina e na defesa dos interesses da indústria militar americana.

O episódio da Colômbia não surpreende o general Diogo Figueiredo.
Ele lembra o caso da concorrência da Arábia Saudita para a compra
de blindados. “O carro de combate brasileiro Osório ganhou, mas
não levou, porque acabou predominando o interesse da indústria americana.” Segundo ele, “o governo brasileiro, nos últimos 20 anos,
não deu respaldo efetivo à indústria de defesa nas negociações internacionais”. Também na escolha da empresa para o fornecimento
de radares para o Sistema de Vigilância da Amazônia houve pressões
de Washington. Três fatos chegaram a surpreender até militares
da Aeronáutica: a indiferença do governo à garantia – dada por especialistas de alto nível da própria Força Aérea – de que o projeto poderia ser desenvolvido através de parceria de uma empresa brasileira – a Avibrás ou outra do setor bélico – com uma empresa americana ou européia; a denúncia, feita por ISTOÉ, de que a Esca, escolhida para fazer o gerenciamento do projeto, não tinha condições para cumprir os prazos estabelecidos (a empresa acabou sendo afastada do projeto por ter dívida com o INSS e faliu); e, por fim, a carta do então presidente Bill Clinton recomendando a Raytheon, que acabou considerada vitoriosa antes da conclusão do processo de escolha. Foram preteridas outra empresa americana, a Unysis, e uma francesa, a Thomson.

Ao analisar o caso dos Super Tucanos, o brigadeiro Eden Asvolinsque, que atuou na Junta Interamericana de Defesa (JID), em Washington, disse que “os americanos consideram cativo o mercado de material de defesa da América Latina para a sua indústria”. Tanto no caso do contrato de US$ 234 milhões para a venda dos Super Tucanos para a Colômbia quanto na licitação da Aeronáutica para a aquisição dos seus novos caças estão em jogo interesses da indústria dos Estados Unidos, segundo o militar. Daí o lobby americano para o F-16, da Lockheed, e para o Gripen, que tem componentes americanos. “Nas negociações de material de defesa, que envolvem contratos de elevados valores, as pressões americanas são mais nítidas, eles fazem tudo para inibir a indústria de determinados países, como o Brasil, por exemplo”, disse o oficial. Ou seja, não interessa à indústria de defesa americana que a Embraer venha a concorrer cada vez mais com a indústria dos Estados Unidos, nem que a indústria brasileira faça negociações com a Colômbia que aumentem a sua influência brasileira naquele país.