Em Milão, a cidade mais chique da Itália, Giorgio Armani, o estilista milionário que mudou o modo de vestir de homens e mulheres endinheirados, não está nem um pouco preocupado com o tititi da alta-costura. “Atualmente, parece que vestidos de alta-costura são um tanto inúteis”, ele diz. O chacoalhão veio de um documentário de apenas 20 minutos, Desplazados, realizado em julho pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. O filme recolhe testemunhos de camponeses vítimas da guerra civil que assola a Colômbia há 40 anos e é o carro-chefe de uma campanha da Organização das Nações Unidas (ONU) que será lançada neste fim de ano para chamar a atenção do mundo para o problema. Foi exibido pela primeira vez no luxuoso teatro Armani, em Milão, na presença do estilista e do alto comissário das Nações Unidas, Ludd Rubbers. “ Me sinto como se tivesse ido a um hospital onde encontrei uma realidade muito difícil, e me pergunto que trabalho eu faço enquanto pessoas estão sofrendo. Não se pode ficar impassível diante do que está acontecendo”, disse a ISTOÉ após a exibição do documentário. “Depois desse filme, diria que estou pronto para largar a moda amanhã.”

Armani, 68 anos, dono de um dos maiores conglomerados de moda do mundo, com lojas em 35 países (uma delas acabou de ser inaugurada
no shopping Fashion Mall, no Rio de Janeiro; outras três estão em
São Paulo), não faria isso com seus clientes, homens e mulheres
que adquirem uma súbita elegância ao vestir uma peça com a sua assinatura (os novos ternos do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, são atribuídos a Armani). Mas, como embaixador da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) desde maio, já está fazendo muito para colombianos, peruanos, afegãs… Na Colômbia e no Peru, por exemplo, financia pequenos agricultores no cultivo de algodão sem agrotóxico. “Coloco meus negócios à disposição não só para vender os tapetes das mulheres afegãs, mas também
das mães de Bogotá ou Medellin que desejem comercializar produtos étnicos, com todo o lucro revertido para elas.” Entre a sexta-feira
22 e 13 de dezembro, um percentual das vendas de 33 negócios
Armani na Europa será destinado aos refugiados colombianos.

O estilista que impressiona o mundo da moda com seu luxo minimalista está impressionado com a realidade colombiana, em que só a indústria do sequestro movimenta cerca de US$ 100 milhões por ano, dinheiro utilizado no financiamento da guerrilha Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (Farc), que provocou a fuga de pelo menos dois milhões de pessoas. Armani é o responsável pela arrecadação de fundos na Europa. Cerca de US$ 6 milhões são necessários para manter a ajuda humanitária financiada pelo Alto Comissariado no país.

A curto prazo o desafio é descobrir quais são os locais seguros
para ajudar na instalação e assentamento daqueles que desejam
viver com alguma tranquilidade. A curto prazo também, tapetes
afegãos, vasos marroquinos e tricôs sul-americanos deverão estar
lado a lado com os elegantes ternos e deslumbrantes vestidos nas
lojas Giorgio Armani ao redor do mundo. “Na minha idade,
considerando tudo o que conquistei na vida e na profissão,
gostaria de fazer a lgo mais do que dar conselhos de moda.”