Se não fosse pela brisa quente soprada do mar e pela vista do
Pão de Açúcar, um dos cartões postais do Rio de Janeiro, o
incauto que caísse na Cúpula
de Negócios da América Latina
do Fórum Econômico Mundial
poderia pensar que estava na conferência errada. Pela quantidade de vozes em defesa de avanços sociais para amparar o crescimento na região, o encontro parecia uma edição de sua maior antítese, o Fórum Social de Porto Alegre. Na palestra mais concorrida, quase 500 Empresários, líderes e empreendedores sociais dedicaram uma longa sessão de aplauso a dois ícones do capitalismo. O primeiro foi o Americano William Rhodes, principal executivo do Citigroup, que defendeu o “desenvolvimento sustentável, que leva em conta a importância do meio ambiente como totalmente compatível com o crescimento econômico”. A grande surpresa saiu do microfone do Australiano James Wolfensohn, presidente do Banco Mundial (Bird), para quem “um país
não pode ser julgado por seus números, mas por sua população, oportunidades e justiça social. E completou, num recado aos empresários: “Não é possível separar lucro de responsabilidade social.”

Depois de três dias de visita a projetos financiados por sua instituição
no Nordeste, na Amazônia e no Rio e antes de seguir para um
tête-à-tête com Lula em Brasília, Wolfensohn decretou a morte
do Consenso de Washington, o conjunto de políticas liberalizantes aplicadas como cartilha nos países latinos, e que incluem
privatização, desregulamentação do Estado e mercado livre.

Poucas horas antes do discurso à elite econômica, o chefe do Bird arriscou um batuque na escola de samba Mangueira, onde inaugurou
o Relógio de Inclusão Digital, um contador atualizado todos os dias
na página do Comitê para a Democratização da Informática (CDI)
na internet. O relógio estreou com 23 milhões de brasileiros com
acesso à tecnologia e uma multidão de 152,3 milhões de excluídos.
“Só 3,4% da América Latina tem acesso à internet, enquanto
metade dos americanos e um em cada três europeus estão online”, resume o carioca Rodrigo Baggio, diretor-executivo do CDI.

Apesar de tamanho fosso tecnológico, uma das boas notícias da cúpula econômica foi o poder competitivo brasileiro. O País saltou do oitavo para o primeiro colocado no ranking de competitividade em tecnologia da informação elaborado pelo Banco Mundial. O preparo tecnológico é um dos três critérios para avaliar a competitividade de uma nação. Os outros dois são o desempenho macroeconômico e das instituições públicas. Se fosse apenas por esses dois últimos itens, o Brasil estaria atrás do Chile e da Argentina. Ainda assim, está a anos-luz de distância dos países mais preparados para competir no mundo globalizado, os EUA, a Suécia e Cingapura. “Lutar contra a exclusão digital é uma das formas de combater a pobreza e melhorar a distribuição de renda”, resumiu José Figueres, diretor-geral do Fórum Econômico Mundial.

Não foi só no discurso que a elite econômica mudou. A ecologia
também faz parte das preocupações do Fórum. Num exemplo do
que pode ser o desenvolvimento sustentável na prática, toda a
poluição gerada pelos participantes durante os três dias da Cúpula
da América Latina será compensada com o plantio de novas árvores. Quando crescerem, elas devem absorver as 680 toneladas de
gás carbônico lançadas na atmosfera pelas delegações que se hospedaram, consumiram, andaram de avião e de carro pelas ruas
do Rio. Com uma particularidade: em vez de crescer em solo carioca,
as árvores serão plantadas em Chiapas, no México. É só uma
amostra da ecologia nos tempos de economia planetária.

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