Começa a ser vendido este mês nos Estados Unidos um remédio contra a Aids que combate o HIV com uma estratégia diferente. Trata-se do Fuzeon, aprovado pelo FDA (a agência americana que regula medicamentos) e fabricado pela Roche. A droga é a primeira representante da classe dos inibidores de fusão. Em vez de agir sobre a célula infectada, como os outros remédios, a substância ativa do Fuzeon, chamada de enfuvirtide, modifica características do vírus de modo que impede sua entrada nas células.

Para entrar na célula, o HIV usa algumas chaves para abrir as portas de acesso ao seu interior. Do lado do vírus, essas chaves são proteínas (C4, V3 e GP 41) que se combinam perfeitamente com outras (as portas de acesso) expressas na membrana que recobre a célula. Ultrapassadas as barreiras, o vírus insere seu material genético na célula e inicia sua replicação. A proeza do medicamento é interferir em uma das chaves do vírus, a proteína GP 41. A droga causa uma mudança no desenho químico dessa chave tornando-a inadequada para a fechadura que lhe cabe. Os remédios disponíveis até agora (os inibidores de protease e transcriptase reversa) atacam o HIV depois que ele já entrou na célula.

De acordo com os especialistas, o Fuzeon é uma arma que deve entrar em cena quando outros remédios falharem, casos em que o vírus desenvolve resistência a eles. No Hospital Heliópolis, de São Paulo, seis pacientes nessas condições estão tomando o Fuzeon, sob a supervisão do infectologista Artur Timerman. “Ele funciona melhor em conjunto com drogas ainda não usadas pelo doente e mais novas”, diz. O infectologista Davi Salomão Lewi, de São Paulo, explica que o uso isolado do Fuzeon acarreta prejuízos. “Sozinho, o remédio perde o efeito em pouco tempo. Fazer isso significa neutralizar a única arma disponível para quem fica sem opções”, alerta. Outro ponto delicado é o fato de a droga ser injetável, gerando discussão sobre o manuseio e descarte das seringas, infectadas pelo sangue do usuário com o HIV. Segundo a Roche, o paciente deve levar as seringas para hospitais, onde serão destruídas. No Brasil, a liberação da droga depende de aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o que se espera para o último trimestre de 2003. Nos Estados Unidos, um dia de tratamento com o Fuzeon custa US$ 50.