Minutos depois de as primeiras bombas e os primeiros mísseis atingirem Bagdá, no amanhecer da quinta-feira 20, a rede de tevê britânica BBC anunciou o pronunciamento do responsável pelo feito, George W. Bush. Junto com o anúncio da fala do presidente americano, a rede inglesa colocou no ar as imagens de Bush filho em plenos preparativos e ensaios para explicar ao mundo que sua tão sonhada guerra havia começado. Não fosse trágico, seria cômico, muito cômico. Diante das câmeras, Bush, com o seu inconfundível ar parvo, decorava o discurso, ajeitava-se na cadeira e experimentava expressões dramáticas que se adequassem à tarefa, entre sorrisos e caretas cínicas, patéticas e constrangedoras. A exibição de cretinice explícita foi feita defronte às câmeras – em transmissão global da BBC, que foi depois reprisada por outras emissoras – enquanto seus cabelos eram ajeitados por uma auxiliar.

A cretinice só não é maior que a insensatez. O bombardeio à capital iraquiana na sexta-feira foi brutal, e assistir a ele pela tevê foi uma experiência deprimente. Por mais inteligentes que sejam as bombas, é difícil acreditar que os cinco milhões de habitantes de Bagdá tenham sobrevivido incólumes ao verdadeiro desabamento dos céus sobre suas cabeças. Também é difícil acreditar que, depois de tudo isso – e a guerra ainda está em seus primórdios –, os americanos sejam recebidos com aplausos quando chegarem a Bagdá, como defende o secretário de Defesa americano, Donald Rumsfeld. E se a insensatez, como se vê, é recorrente, a cretinice também o é. Perguntado sobre o que o presidente Bush havia sentido ao assistir ao triste espetáculo do bombardeio pela tevê, seu porta-voz, Ary Flescher, respondeu: “O presidente não gosta de assistir à televisão".