Veneza entra em alarme a cada vez que o nível do mar Adriático ultrapassa um metro. As inundações, conhecidas como “acqua alta”, ameaçam uma das mais charmosas e românticas cidades do mundo, que abriga preciosidades históricas como a Praça São Marco, datada do século XII, e palacetes dos séculos XVII e XVIII. Uma reunião no dia 3 de abril, em Roma, pode acabar de vez com o risco de Veneza submergir. Na ocasião, será discutido o Projeto Moisés, apresentado em 1981 e que propõe a construção de 79 comportas nos três locais em que o mar Adriático se encontra com a laguna onde fica a cidade. Em dias de maré alta, esse equipamento se encheria de ar, impedindo as inundações. Mas o plano, executado nos próximos oito anos ao custo de US$ 4 bilhões, enfrenta oposição.

O principal argumento contrário partiu dos ambientalistas. Eles afirmam que as comportas impediriam a troca de águas entre a
laguna e o mar. Os defensores do Moisés afirmam que essa troca acontece o dia todo, e a maré voltaria rapidamente a entrar
na laguna assim que o sistema fosse desligado.

Outro grupo de críticos afirma que as comportas estarão obsoletas em 50 anos. Isso porque seu design está baseado em cálculos ultrapassados sobre a previsão do aumento do nível do mar. “As comportas consideram cenários presentes e futuros”, afirma Donald Harleman, professor de engenharia do meio ambiente do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, que faz parte do grupo de discussão. “Não conheço outra alternativa para salvar Veneza”, diz.

O aumento do nível do mar e o afundamento de Veneza, que já chegou
a abrigar 250 mil pessoas em tempos medievais e hoje tem 60 mil habitantes, estão relacionados às inundações. Calcula-se que a cidade afundou 13 cm nos últimos 100 anos, enquanto o nível do mar aumentou 11 cm. Algumas projeções para este século mostram que esses dois fatores combinados podem custar à cidade outros 22 cm.

“Com o aquecimento global, nos próximos 100 anos, o nível do mar deve subir 1 cm por ano, invadindo muitas cidades litorâneas”, diz Enéas Salati, diretor da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável.