O senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) confiava no conflito do Iraque para abafar seu martírio. Mas a guerra, para ACM, explodiu antes. Na terça-feira 18, véspera do bombardeio a Bagdá, o senador virou o alvo de oportunidade do novo relator do Conselho de Ética, o senador Geraldo Mesquita Júnior (PSB-AC). A primeira bomba já tem dia e local para cair: quarta-feira 26, na sala do Conselho de Ética do Senado, com o depoimento do delegado Gesival Gomes, da Polícia Federal. Pela segunda vez em menos de dois anos, ACM volta a ser julgado por quebra de decoro. Em 2001, pela violação do painel da Casa. Agora, pelo envolvimento no megagrampo em 232 telefones na Bahia, comprometendo deputados, empresários e a ex-amante do senador. Todos tinham em comum o fato de serem adversários ou inimigos de ACM. O roteiro de investigação será definido a partir do depoimento do delegado Gomes, que há seis semanas trabalha na montagem do quebra-cabeça telefônico instalado e executado na Secretaria de Segurança da Bahia por gente próxima ao senador.

O ar cansado, o caminhar arrastado, a expressão deprimida revelavam o grau de abatimento de ACM, após a batalha para barrar a investigação. Não conseguiu. Dez minutos antes da sessão de abertura, às 18h da terça-feira 18, uma tensa reunião de líderes garantiu a maioria dos votos para iniciar a investigação. Artur Virgílio, líder do PSDB, chegou a ameaçar um bloco com o PFL. Iniciada a sessão, ficou claro que os dois votos do ninho tucano decidiram pela investigação por 9 votos a 6.

As horas que antecederam a reunião foram tomadas por uma manobra do PFL para substituir a investigação do Conselho pelo inquérito da Polícia Federal. O porta-voz da manobra foi o senador pefelista Romeu Tuma (SP), que continua na cadeira de corregedor-geral do Senado sem ter sido eleito pelo plenário. Tuma chegou a votar contra a investigação. Perdida a batalha, amigos de ACM tentam evitar o depoimento da ex-amante Adriana Barreto sobre sua relação com o cacique. “Isso nada tem a ver com o Senado”, justificava um senador pefelista. Mas será difícil evitar o depoimento dela, assim como das três principais vítimas do grampo no âmbito do Congresso – os deputados Nelson Pellegrino (líder do PT na Câmara), Geddel Viera Lima (primeiro-secretário da Mesa) e Benito Gama, ex-secretário da Fazenda do governo ACM. “Eu e Adriana estamos prontos para depor”, reafirmou o atual marido de Adriana, o advogado Plácido Faria, a ISTOÉ. “Quero depor porque tenho informações relevantes”, insistiu Geddel. “Há fatos novos que o Conselho deve conhecer”, completou Benito. “O Conselho tem a obrigação de ouvir todo mundo”, concorda a senadora Heloísa Helena (PT-AL).

Luta perdida – O desalento de ACM começa a contaminar até mesmo o PFL, que tem três dos 15 senadores no Conselho. Nas reuniões internas, já existe a convicção de que sua sobrevivência é uma luta perdida. “Será um julgamento técnico. Apresentadas as provas, acabou”, diz o procurador federal e senador Demóstenes Torres, do PFL. Outro pefelista, o senador Heráclito Fortes (PI), com o recato que recomenda a boa educação, já articula nos bastidores a renúncia do baiano. De olho na presidência do Senado, em 2005, o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), deu uma no cravo e outra na ferradura para se aproximar do PFL. Indicou dois senadores anti-ACM, Juvêncio da Fonseca (atual presidente do Conselho) e Ramez Tebet, e dois pró-ACM, Luiz Otávio e João Alberto.

ACM também será alvo de um bombardeio na área policial. Os depoimentos dos policiais da Bahia, do casal e dos parlamentares federais se somam aos documentos publicados por ISTOÉ nas últimas semanas, com o nome e a assinatura do senador em textos oficiais baseados nos grampos que ele mesmo disseminava na imprensa. Investigadores da grampolândia já identificam, no material coletado, evidências que antecipam o indiciamento de ACM em pelo menos três crimes do Código Penal: co-autoria, receptação e participação no esquema criminoso. E caberá ao delegado Gesival Gomes, o primeiro a depor no Conselho, a tarefa de amarrar o guizo no pescoço do senador.