O escritor V.S. Naipaul é um exemplo do melhor que o colonialismo britânico produziu em termos culturais. Nascido em 1932, na pequena ilha caribenha de Trinidad e Tobago, filho de uma família indiana (como praticamente metade da população local), teve sua formação totalmente influenciada pela educação inglesa, desenvolvendo uma carreira que em 2001 lhe valeria o Prêmio Nobel de literatura. O massagista místico (Companhia das Letras, 224 págs.,
R$ 30,50) é um de seus primeiros textos, publicado em 1957, mas já reflete a ironia fina de um autor brilhante, que reconhece suas origens e as contradições geradas por elas no subconsciente da criação.

A história é deliciosa. Conta a vida do pândita (brâmane letrado) Ganesh, que abandona a sina familiar, que o condenaria à vida medíocre de um massagista de interior, algo próximo do pronto-socorro local,
para dedicar-se às coisas do espírito. Dono de um gosto atabalhoado pelas leituras mais improváveis, ele acaba transformando-se no curandeiro espiritual do pequeno vilarejo de Fuente Grove. Os resultados alcançados fazem do homem místico envolto em seu turbante um próspero empresário da fé alheia e um líder político que, de trama em trama, termina por sagrar-se Membro do Império Britânico, ou seja,
um estadista de destaque entre as lideranças coloniais. Com este enredo à volta de uma situação de oportunismo colonizado, o jovem Naipaul mostrou nas entrelinhas que a sátira à submissão cultural de seu próprio povo seria uma constante na sua obra. Naipaul se auto-ironiza com a desenvoltura fina de um britânico, mas em nenhum momento perde
a perspectiva da realidade.