Quando o cineasta russo Andrei Tarkovsky lançou, em 1972, um filme de ficção científica inspirado no livro Solaris, do polonês Stanislaw Lem, o trabalho foi logo tomado como uma resposta a 2001 – uma odisséia no espaço, do americano auto-exilado em Londres Stanley Kubrick, lançado quatro anos antes e criado a partir de uma história curta de Arthur C. Clarke. O paralelo é que, enquanto os soviéticos defendiam o humano como o limite, os americanos postulavam uma inteligência superior que comandaria o universo. Três décadas depois, o diretor americano Steven Soderbergh e seu colega James Cameron – que aqui atua como produtor – guardaram seus Oscar na gaveta e resolveram dar uma nova leitura ao filme russo. O novo Solaris (Solaris, Estados Unidos, 2002), em cartaz na sexta-feira 28, deixa de lado a disputa entre o humano e o sobre-humano e se dá por satisfeito em se concentrar num humano apenas. No caso, o psicólogo Chris Kelvin – interpretado pelo galã George Clooney – que, ainda atormentado pelo suicídio recente da sua mulher, Rheya (Natascha McElhone), é convocado para examinar os tripulantes de uma nave que gravita em torno do longínquo planeta Solaris.

Os sobreviventes sofrem de alucinações agudas atribuídas à misteriosa névoa que envolve o planeta. Logo, o próprio Kelvin mergulha no mesmo desvario. Originalmente é uma história de ficção com toques metafísicos. Mas, diante da metáfora criada pelo escritor Lem transformada numa história de amor, Soderbergh realizou um trabalho voltado somente para a plasticidade. Basta dizer que o traseiro nu de Clooney e o rosto enigmágtico de Natascha já provocaram mais discussões do que qualquer idéia porventura embutida no filme.