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DERRAPADA
Declarações de Romney em Jerusalém geraram
críticas de palestinos, que o acusaram de racismo

Mitt Romney, o candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, deve estar aliviado por voltar ao seu País, depois de ter encerrado uma desastrosa turnê internacional. Nos sete dias em que ele percorreu cidades do Reino Unido, Israel e Polônia, uma sequência de gafes diplomáticas o acompanhou. Ao chegar a Londres com as credenciais de diretor dos bem-sucedidos Jogos Olímpicos de Inverno de Salt Lake City, Romney foi questionado numa entrevista à rede de tevê NBC se a capital britânica estava preparada para receber a Olimpíada. “É difícil dizer se vai dar tudo certo. Há algumas coisas desconcertantes”, respondeu, citando problemas de segurança e duvidando da capacidade de Londres de celebrar o “momento olímpico”. A reação dos britânicos, aliados históricos e importantes dos EUA, foi inflamada e os jornais europeus foram os primeiros a ironizar o candidato. Na capa do tabloide “Daily Mail”, a pergunta: “Quem convidou o estraga-prazeres Romney?”

Na mesma medida, a franqueza do ex-governador de Massachusetts provocou reações no primeiro-ministro britânico, David Cameron (“Sediar os jogos no meio do nada é obviamente mais fácil”), e no prefeito de Londres, Boris Johnson (“Um tal de Mitt Romney perguntou se estamos prontos”). O candidato tropeçou onde não havia razão para tropeçar. “Tudo que ele deveria dizer é que estava se divertindo com os Jogos”, disse à ISTOÉ Benjamin Bates, professor de comunicação pública da Universidade de Ohio. “Romney transformou uma tarefa simples num erro, explicitando sua falta de experiência em relações internacionais.” A passagem conturbada por terras inglesas trouxe novamente à tona trechos polêmicos do livro da autoria de Romney “No Apology: The Case for American Greatness” (“Sem desculpas: o caso da grandeza americana”, numa tradução livre para o português), publicado em março de 2010. No livro, ele diz que “a Inglaterra é só uma pequena ilha” e “com algumas exceções, ela não faz produtos que o resto do mundo queira comprar”.

O próximo destino escolhido foi Israel. E as derrapadas continuaram. Numa tentativa exagerada de conseguir os votos dos judeus americanos e diminuir a vantagem do presidente Barack Obama entre eles, Romney ofendeu os palestinos. Primeiro, disse que Jerusalém deveria ser a capital de Israel, um assunto delicado para as negociações de paz, e prometeu que transferiria a embaixada americana de Tel-Aviv para lá. Em seguida, durante um café da manhã para a arrecadação de fundos para a campanha, o republicano sugeriu que a disparidade econômica entre israelenses e palestinos guarda relação direta com a cultura dos povos. Não só foi acusado de racismo, como de ignorância sobre a ocupação e o controle das fronteiras dos territórios palestinos por militares israelenses. “Esse comentário foi tão inconsequente que fez o mundo se perguntar se ele tem mesmo a habilidade necessária >> >> para ser o líder dos EUA”, afirmou à ISTOÉ Danny Hayes, professor de governo da Escola de Assuntos Públicos da Universidade Americana de Washington.

O encerramento da turnê na Polônia não foi menos embaraçoso. Logo na sua chegada, os atuais líderes da federação sindical polaca Solidariedade divulgaram um texto classificando Mitt Romney e o Partido Republicano como “hostis” aos sindicatos e aos direitos dos trabalhadores. Como se não fosse suficiente, os ânimos da equipe de campanha se acirraram quando o secretário de imprensa Rick Gorka respondeu com xingamentos e palavrões a jornalistas que perguntaram sobre as gafes do candidato e repercutiram as indignações da Palestina. Pior não poderia ficar.

O vexame internacional de Romney se torna ainda mais acentuado quando comparado ao sucesso que o então candidato Barack Obama fez na Europa, em 2008. Diante de uma plateia de 200 mil pessoas em Berlim, o atual presidente fez um discurso sobre esperança e saiu ovacionado. “Aquela viagem foi incomum na forma como Obama foi recebido”, diz Danny Hayes. Benjamin Bates, de Ohio, diz que a viagem de Romney só pode mesmo ser comparada à do ex-presidente americano Richard Nixon em 1958, quando ele encarou protestos violentos na América do Sul.

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Foto: MENAHEM KAHANA/AFP