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As eleições na pacata cidade de Mantenópolis, no Espírito Santo, vão reavivar a memória do episódio que culminou com o suicídio do ex-presidente Getúlio Vargas. Entre os postulantes a uma vaga na Câmara Municipal da cidade na eleição deste ano aparece o nome de Alcino João do Nascimento. Candidato pelo Partido dos Trabalhadores, o aposentado, de 90 anos, cravou seu nome na história brasileira por ser o pistoleiro do atentado da rua Tonelero, ocorrido na madrugada de 5 de agosto de 1954 no Rio de Janeiro. Para não correr risco de perder votos, no entanto, Alcino prefere não comentar sobre sua participação no rumoroso caso. “Fui aconselhado pelo PT a não falar sobre o assunto”, disse.

O temor do candidato petista é explicável. Segundo relatos oficiais, Alcino foi contratado por integrantes da guarda pessoal de Getúlio, como seu guarda-costas Gregório Fortunato, para calar a tiros a voz mais ácida da oposição: o jornalista Carlos Lacerda. A ação mal planejada resultou no assassinato do major-aviador Rubens Vaz, alvo de dois disparos, num tiro no pé de Lacerda e noutro no guarda municipal Sávio Romero. Com a comprovação da ligação de pessoas próximas ao governo no incidente, acirraram-se ainda mais os ânimos dos militares pela saída de Vargas do poder. Em 24 de agosto, Getúlio suicidou-se com um tiro no peito, optando por “deixar a vida para entrar na história”. E, dois anos depois, Alcino foi condenado a 33 anos de prisão.

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DOIS TEMPOS
Alcino Nascimento em 1956 (abaixo) durante julgamento pelo atentado
que incriminou Vargas e hoje como candidato do PT (acima)

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Por razões pessoais e eleitorais, Alcino prefere relembrar de um passado que ele considera “mais nobre”, como os momentos em que viveu ao lado do ex-presidente Juscelino Kubitschek. Em 1939, recém-casado, Alcino procurou JK em Belo Horizonte com um pedido de emprego. Obteve êxito. Foi contratado como mestre de obras. “Tive o prazer de servir a Juscelino por mais de três anos, antes de trabalhar com Getúlio”, diz. Em comum entre Getúlio e Juscelino, ele vê o “empenho pelos mais pobres”. Questionado sobre o motivo de se candidatar aos 90 anos, Alcino recorre a um clichê: “Quero ajudar o povo.”

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Fotos: Vitor Jubini/Futura Press