Alguma vez você já percebeu os movimentos do intestino? Ou chegou a ter a impressão de ouvir essa agitação? Provavelmente, as respostas serão negativas. Quem respondeu “sim” pode estar entre aqueles que sofrem da pouco conhecida síndrome do intestino irritável, problema que afeta entre 10% e 20% da população. Além da desagradável sensação de que o órgão se agita, aqueles que padecem desse mal convivem com um conjunto de três sintomas que comprometem a qualidade de vida: distensão do abdome, dores no ventre e constipação ou diarréia (ou ambos, em períodos alternados). Vale ressaltar que, para diagnosticar o problema, é preciso que as três queixas tenham se manifestado ao mesmo tempo por no mínimo três meses no decorrer de um ano. “O diagnóstico é feito por meio de exclusão”, diz o gastroenterologista Sender Miszputen, da Universidade Federal de São Paulo.

Boa parte das pessoas que têm o problema apresenta sintomas discretos. Mas tem gente que passa maus bocados. Desde 1995, a professora Vânia Silva, de São Paulo, convive com o mal. No começo, a dor só se manifestava à noite. Com o tempo, passou a ocorrer de manhã. “Às vezes, ficava prostrada. Meu abdome dilatava tanto que parecia estar grávida de três meses”, conta. Vânia tentou vários tratamentos até descobrir que a causa dos seus desconfortos era a síndrome. Atualmente, ela recorre a um remédio que foi aprovado no Brasil, no mês passado, o tegaserode (do laboratório Novartis). “Agora, vou com mais frequência ao banheiro e não tenho estufamento abdominal nem dores”, comemora.

Quando ocorre constipação, é comum que as pessoas acreditem que a causa do problema seja a falta de consumo de fibras. A síndrome, entretanto, não está associada à dieta. A rigor, ela não é uma doença. “É uma disfunção. A pessoa tem hipersensibilidade no intestino e por isso a síndrome se chama irritável. E o órgão também apresenta motilidade alterada”, afirma o gastroenterologista Eduardo André, do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. É normal que o intestino se mexa para que as fezes sejam expelidas. “Em geral, os grandes movimentos acontecem de uma a três vezes por dia”, completa André. Na maioria das pessoas, as mensagens de que o órgão está se contraindo ou dilatando são bloqueadas por mecanismos cerebrais. Quem sofre da síndrome, porém, não tem essa barreira. Daí a percepção aguçada dos movimentos.

Os especialistas batalham para conhecer melhor o problema. Eles já sabem que infecções intestinais, intolerância a alimentos (como produtos lácteos) e stress funcionam como gatilhos. A ciência estuda também a relação com a serotonina, substância envolvida no processamento das emoções, no cérebro, mas fabricada em grande parte no trato digestivo (apenas 5% da produção é cerebral). Novos remédios associados à serotonina estão em desenvolvimento. Enquanto isso, os médicos receitam outras drogas para controlar os sintomas. Recomendam ainda diminuir o stress. E há mais um aliado: a terapia psicológica. Em alguns casos, a síndrome afeta tanto que provoca distúrbios, como a ausência de convívio social.