Nos últimos anos, o avanço da medicina permitiu a criação de diversas formas de tratamentos contra o câncer. Hoje, a maioria dos tumores pode ser combatida com sucesso quando os casos são diagnosticados precocemente. Mas para conseguir resultados vitoriosos, os médicos sabem que é importante oferecer acesso às terapias modernas e também apoio psicológico ao paciente. Só assim é possível evitar que ele fique muito agitado ou caia em depressão, circunstâncias que facilitam a progressão da doença. “Quando se está emocionalmente abalado, as defesas do organismo diminuem e o corpo tem mais dificuldades para reagir”, explica a médica Nise Yamaguchi, diretora-científica da Sociedade Brasileira
de Cancerologia.

Porém, os especialistas começam a perceber que não adianta apenas cuidar das emoções do paciente. É preciso prestar atenção nos sentimentos de seus familiares. E ajudá-los, se for preciso. A constatação é de que o câncer é uma doença que afeta toda a família. Muitos parentes ficam deprimidos, ansiosos, e sofrem silenciosamente ou transmitem essas sensações ao doente. Sem contar o fato de que, ao longo do tratamento, a rotina da família também muda, já que é preciso acompanhar o paciente aos exames e às sessões de quimioterapia.

Por isso, várias clínicas estão começando a oferecer suporte psicológico aos familiares. Nos Estados Unidos, o Hospital Johns Hopkins, um dos mais conceituados daquele país, tem programas nessa área. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), em São Paulo, acaba de inaugurar um projeto para auxiliar os familiares a enfrentar as dificuldades surgidas ao longo da batalha contra a doença. As orientações são passadas em reuniões semanais nas quais os familiares aprendem, por exemplo, a melhorar a comunicação com o doente. Uma das recomendações é não deixar de tocar no assunto. “Quando se finge que nada está acontecendo, a pessoa se sente discriminada e sozinha”, justifica Vicente Carvalho, psiquiatra e coordenador do programa (leia mais dicas na página ao lado).

A dona-de-casa Maria Aparecida Rutece, 49 anos, sabe o valor de uma boa conversa. Em 1997, ela descobriu que estava com câncer de mama ao fazer um exame de rotina. Na luta contra a doença, a dona-de-casa contou com o ombro amigo da cunhada, Norma de Souza, 51 anos. “O carinho dela me deu força. A gente conversava e chorava juntas”, conta. Maria Aparecida hoje está melhor e continua se tratando. Para Norma, a experiência foi uma lição. “Fiquei mais fortalecida para enfrentar os problemas do dia-a-dia e aprendi a importância de dividir as angústias desse momento com ela”, diz. As duas participam do programa do IBCC. Se for preciso, a entidade encaminhará os familiares para tratamento com psicólogos.

Desgaste – Esse mesmo tipo de atendimento é realizado pela Clínica Oncologistas Associados, no Rio. “O familiar fica muito desgastado por uma série de pressões e atribuições que recaem sobre ele. Mas quem cuida precisa se cuidar e ser cuidado”, explica a psicóloga Elena Lerner, da clínica. No centro, os familiares podem ser auxiliados também por psicólogos. Uma das principais orientações transmitidas à família é conversar com o doente sobre as dificuldades enfrentadas tanto pelo paciente quanto pelos próprios parentes. O ideal, de acordo com os especialistas, é que as pessoas envolvidas no combate à doença se sintam à vontade para falar francamente sobre suas angústias e expectativas. Além disso, é preciso não cobrar do paciente comportamentos exemplares para atender aos que estão ansiosos, por exemplo. Às vezes, quem está do lado se incomoda por considerar que o doente não está lutando o suficiente. Mas é preciso saber que tudo deve ser feito dentro dos limites de cada um.

Outro local onde os parentes encontram apoio é o Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo. Lá, há um grupo de profissionais destacados para o atendimento dos familiares. É compreensível. Afinal, é possível imaginar o impacto de saber que um filho sofre de câncer. Em geral, a primeira reação dos pais é de perplexidade. Depois, com a melhora da criança – felizmente uma situação cada vez mais comum –, eles tendem a negar a doença, como se tudo não tivesse passado de um susto. Outra situação frequente é surgirem desavenças entre o casal, já submetido a um imenso stress. Briga-se por causa do tipo de tratamento, do tipo de atenção que deve ser dada à criança e por outros motivos.
No entanto, é justamente nessa hora que estar equilibrado – dentro do possível, é claro – faz diferença na recuperação. “O envolvimento dos familiares é fundamental para a melhora do paciente. Eles são pessoas indicadas para ouvir o doente nos momentos de angústia e dar força”, afirma Vicente Odone, oncologista pediátrico do Instituto da Criança. De fato, a experiência mostra que contar com a ajuda de quem está por perto tem resultados muito positivos. “No caso das crianças, quando existe o apoio da família, o índice de abandono de tratamento é inferior
a 3%”, diz Odone.