A cena é bem conhecida. Uma mulher chega a uma loja, pede uma calça jeans tamanho 40 – o mesmo que sempre vestiu –, e algo dá errado: sobra tecido na barra, falta nos quadris. Ao provar uma camisa acinturada, botões não fecham. Culpa do busto, que não se encaixa naquele manequim. Não que ela tenha engordado, a modelagem é que ficou menor. Sem um sistema de medidas genuinamente brasileiro, as confecções em atividade no País parecem criar pensando somente em mulheres magérrimas, de pernas e braços longilíneos. Ao entrar no provador, clientes como a atriz Bárbara Paz sentem-se fora do padrão. “As calças ficam muito compridas e eu tenho de dobrar. Com as blusinhas, também não me entendo: o M fica grande, o P, apertado”, diz.

O problema não está no corpo de Bárbara, que tem irretocáveis 1,70 m de altura, 55 kg, cintura fina e usa sutiã 42. É que o tamanho e o caimento das roupas andam variando de loja para loja. Ao criar suas coleções, estilistas partem de um modelo ideal, tamanho 38. Com mais quatro centímetros de tecido, tem-se o 40 e assim sucessivamente. José Gayegos, coordenador de moda do Senac, explica que, em vez de criar modelagens distintas para diferentes biotipos, as grifes ampliam moldes a seu bel-prazer. “Isso faz com que uma pessoa vista P numa grife e M na outra”, conclui.

Para tentar resolver esse impasse, redes como a Vivavida estão investindo em tamanhos maiores. Seguindo a tendência de grifes internacionais, como Donna Karan, Polo Ralph Lauren e Max Mara, que têm linhas específicas para mulheres maiores, a grife paulistana lançou a coleção Plus, que vai do 46 ao 56. As roupas foram moldadas a partir do manequim da modelo Andréa Agostinho, de 1,70 m e 85 kg . Decotes profundos expõem o colo farto, e mangas e transparências torneiam os braços. As calças têm elástico lateral para não marcar a barriga. “Faz bem para o ego vestir uma roupa que foi feita pensando em você”, diz Andréa.

Diferentemente do que acontece no Japão ou nos Estados Unidos, onde há diferentes escalas de tamanho de acordo com o biótipo do consumidor – gordo, magro, alto, baixo –, aqui é o cliente que tem de adaptar a roupa a seu tipo. Bárbara Paz, por exemplo, utiliza um macete do tempo da vovó: ajustar as peças ao corpo com alfinetes de segurança. Ela também costuma desenhar as próprias roupas e contratar uma costureira. “Crio meu próprio estilo, pois, se for esperar que as grifes se adaptem ao meu corpo, melhor aguardar sentada”, afirma.

Para a cantora Luciana Mello, 23 anos, e 1,86 m, a solução foi passar a vestir roupas masculinas. “Sou magra, mas minha estrutura óssea é grande. Camisas acinturadas ou calças de modelagem justa não servem em mim”, conta. No dia-a-dia, Luciana acaba optando por calças largas, camisões e casacos de náilon. Para encontrar algo mais feminino, só percorrendo diversas lojas, até achar uma que tenha roupas maiores e, ainda assim, jovens. “As vendedoras viram os estoques de ponta-cabeça, mas, se provo quatro peças e nenhuma fica bem, desisto”, comenta.

Padrões – Exemplos como esses estão levando a indústria da moda brasileira a repensar seus padrões. A Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), que representa 18 mil confecções, pretende realizar ainda este ano o primeiro censo antropométrico nacional. A idéia é definir os biotipos e padrões de medida da população brasileira, por meio de uma pesquisa com mais de 12 mil pessoas de diferentes regiões.

Enquanto o novo molde não chega, grifes nacionais criam soluções para adequar-se a diferentes públicos. Fabricante de mais de 70 diferentes modelos de jeans, a Zoomp passou a fazer calças em numeração ímpar, para atender as mulheres que gostam de calças bem coladas. A Ellus, por sua vez, criou uma calça masculina dois centímetros mais comprida que o usual, para homens de porte atlético. Nada que se compare à sofisticação de grifes estrangeiras, como Levi’s ou Gap, que chegam a dividir seus modelos por comprimento de barra, altura do cavalo e outros detalhes. Mas já é um começo. As pessoas que fogem ao estilo Barbie agradecem.