presidente Fernando Henrique Cardoso acha que a candidatura do senador José Serra (PSDB-SP) está sem comando. Segundo avaliação de FHC, em reunião na quinta-feira 9, no Palácio do Planalto, com as lideranças políticas, a culpa pelo isolamento de Serra é do estilo centralizador do candidato. “Ele é difícil”, afirmou. O presidente está preocupado em criar um cordão de isolamento em torno do governo para evitar que as denúncias cheguem ao Palácio do Planalto. Os interlocutores que estiveram com o presidente recentemente saíram com a impressão que FHC espera a renúncia de Serra, mas não vai pedir para o senador sair da disputa. O governo deve continuar fazendo uma espécie de corpo mole sem mergulhar na eleição. Depois de elogiar muito a campanha do PT, Fernando Henrique cobrou de Serra: “Quem
tem que bater no Lula é o candidato
e não o governo”, disse.

A campanha do tucano levou mais um tiro. Uma reportagem publicada pelo jornal Folha de S. Paulo na sexta-feira 10 denuncia que Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor do Banco do Brasil e caixa de campanha do tucanato, ajudou o marido de uma prima de Serra. Entre 1993 e 1995, o BB liberou o equivalente a US$ 5,3 milhões para o empresário Gregório Marin Preciado. Parte dos empréstimos chegou a ser discutida na diretoria e, para serem aprovados, foi decisiva a ajuda de Ricardo Sérgio, que, segundo o jornal, era amigo de Gregório e discutiu com ele as operações.

Gregório atrasou o pagamento e o acúmulo de juros e multas fez a dívida passar dos R$ 60 milhões. Também com a ajuda de Ricardo Sérgio, o BB concedeu descontos, fazendo-a cair para R$ 4,1 milhões. A operação foi considerada “atípica” e “heterodoxa” por Wolney Ferreira, à época superintendente do banco em São Paulo, em carta ao então presidente do BB, Paulo César Ximenes. Serra entra diretamente no caso, como sócio de um terreno no Morumbi que o banco tentou arrestar para reduzir a dívida. A demora permitiu que Serra e seu contra-parente vendessem o imóvel antes do bloqueio. Apesar de arrastar dívidas no BB, Gregório teve fundos para contribuir com R$ 62.442,82 para a campanha de Serra ao Senado em 1994.

Apesar das especulações sobre a saída de Serra, o alto tucanato entende que o senador ainda é a melhor alternativa e garante que a candidatura será mantida. Duas mudanças importantes já foram decididas: o publicitário Nizan Guanaes assume a campanha e o deputado Pimenta da Veiga (PSDB-MG) passa a ser o coordenador político. As mudanças, no entanto, não garantem a tranquilidade de Serra. A avaliação de lideranças no Congresso é que desta vez Serra será obrigado a explicar suas ligações com Ricardo Sérgio e sua participação no empréstimo. Além disso, é certo que a artilharia contra o tucano vai continuar, pois Serra coleciona desafetos.

O presidente do PMDB do Rio, Wellington Moreira Franco, ex-assessor de FHC, aproveitou para manifestar a insatisfação de seu partido com a condução da campanha do PSDB. “Parece o governo do Lula, ninguém sabe quem manda, o que acontece”, ironizou. Moreira atribui a “pessoas com poder, influência e fonte para mobilizar interesses” as tentativas de desestabilizar Serra. “Do povo é que (essa pressão) não vem. É de gente que está dentro do sistema e quer outras alternativas ou de pessoas que devem achar o Lula melhor de convívio do que o Serra, como segmentos vinculados à indústria da farmácia.” O prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), adversário dos tucanos, prevê mais dificuldades: “Como desdobramento político, atrasará a decisão do PMDB.” Já o candidato do PPS, Ciro Gomes, foi lacônico e irônico ao comentar as denúncias: “Por favor, exonerem-me desse tema, uma vez que se trata de assunto para delegados de polícia.”