No que depender de quatro australianos amalucados, de cabeças raspadas e roupas esquisitas, a avenida Paulista vai parar. Desde a terça-feira 7, o cartão-postal e rascunho de São Paulo passou a abrigar uma família muito especial, composta por Andrew Morrish, 50 anos, Neil Thomas, “quarenta e algo”, Nick Papas, 42, e David Wells, 44, ou como diz este último, “papai, mamãe, o filhinho e a babá”. A proposta da performance Urban dream capsule, protagonizada pelos quatro atores é que, durante duas semanas, eles fiquem encerrados dentro de uma vitrine, na verdade uma espécie de apartamento de 50 metros quadrados, projetado pelo designer Richard Jeziorny e executado pelo diretor de produção Philip Wadds. Urban dream capsule é uma das 26 atrações do 6º Cultura Inglesa Festival, que neste ano focaliza a Austrália através de exposições, eventos, performances, shows e workshops envolvendo 166 artistas que irão percorrer oito cidades paulistas. A performance da Paulista – veia por onde circulam diariamente 39 mil veículos e 26 mil pessoas/hora nos horários de pico – acontece a poucos metros do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Lá, os passantes poderão interagir com os quatro atores que se valem de tudo para se comunicar com o público. Paredes de vidro não são empecilho. Eles aceitam bilhetes, mensagens via fax (11) 3285-3305 ou e-mail udc@culturainglesasp.com.br.

Extremamente simpático e bem-humorado, o grupo, que já percorreu 11 cidades da Austrália, Europa e América, surgiu em 1996 de uma idéia do diretor Neil Thomas. Ou seja, bem antes dos reality shows. Thomas realizava performances junto a manequins de lojas de departamentos com sua trupe Blue Boys, ainda na ativa. Mas, antes que alguém queira saber o porquê de quatro marmanjos ficarem trancafiados juntos durante 14 dias, eles avisam: não há mensagem alguma a ser passada. “Queremos motivar as pessoas.” Para chegarem à forma final de cada intervenção, os espaços onde ficam os apartamentos-vitrines são criados com meses de antecedência a partir de referências colhidas nos devidos locais. Além do básico, como fogão e camas, os ocupantes têm à disposição equipamentos de malabarismo, som e objetos variados com os quais estabelecem contato com os espectadores.

Todos ficam visíveis o tempo inteiro, exceto quando vão ao banheiro. Como eles mesmos cozinham, saem à cata de receitas novas nos dias que antecedem sua entrada na cápsula. Thomas, por exemplo, descobriu no Brasil um doce à base de mandioca, mas demorou horas para entender que se tratava de sua conhecida “cassava”. Semana passada, animadíssimos enquanto aguardavam a chegada de Andrew Morrish – “o velho, o mais gregário, o mais afável” –, os outros três brincavam mostrando o novo figurino, geralmente composto de falsos kilts (saias escocesas) feitos de pano de prato ou tapetes de cozinha. Os complementos brasileiros são jalecos de chapeiros de lanchonete. Acharam o design magnífico.