O presidente da Nestlé, primeiro grande aliado doprincipal projeto do governo Lula, o Fome Zero, só temea guerra de Bush contra o Iraque

Ivan Zurita, 50 anos de vida e 30 de Nestlé, não trabalha de mangas arregaçadas por acaso. Ele comanda, no Brasil, uma subsidiária que faturou no ano passado R$ 7,7 bilhões (R$ 5,9 bilhões no ano anterior) com a venda de 1,2 milhão de toneladas, o que a coloca na segunda posição em volume mundial na companhia e quinta posição em faturamento, mesmo com a desvalorização da moeda brasileira. “Tivemos um crescimento interessante”, diz ele. Sob sua regência, a Nestlé foi a primeira grande multinacional a aderir ao principal programa do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o Fome Zero, com a maior campanha de sua história, “Nestlé e Você. Junta Brasil”, um investimento de cerca de R$ 80 milhões que durante o ano vai vincular todas as ações de marketing desenvolvidas pelas marcas da empresa a um apoio, direto ou indireto, ao Programa Fome Zero. Às afirmações de que a empresa estaria utilizando a campanha para acelerar a aprovação pendente da aquisição da Garoto, no ano passado, pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a resposta de Zurita veio num comunicado oficial: “A Nestlé sempre se pautou nos mais elevados princípios éticos e atua com destacada idoneidade, demonstrada ao longo de seus 82 anos de presença no Brasil, durante os quais exerceu intensamente a sua responsabilidade social e praticou ações nos mais diversos setores, inclusive em parceria com governos anteriores.” A resposta oficial encerra o assunto para Zurita. Ele tem mais o que pensar e fazer no topo de uma companhia de alimentos que mantém 15 mil funcionários diretos e mobiliza 220 mil famílias no campo. De cara, a campanha de apoio ao Fome Zero, que sorteará uma casa no valor de RS 40 mil por dia até o final do ano e, paralelamente, distribuirá outros R$ 40 mil por mês em produtos Nestlé, vai criar dois mil novos empregos. Segue a linha da promoção Nestlé e Você no Show do Milhão, realizada entre 22 de março e 26 de novembro de 2002, que recebeu nada menos que 75.310.913 envelopes, com mais de 600 milhões de embalagens dos produtos da companhia. Inicialmente prevista para durar cinco meses, a campanha foi estendida por mais três, devido ao surpreendente retorno dos consumidores. Em um único dia, a Nestlé chegou a receber mais de um milhão de cartas. “Estou apostando no crescimento, que naturalmente leva ao investimento, e o investimento leva à maior produção; produção é emprego, vendas, impostos. Esse é o nosso caminho”, disse ele nesta entrevista a ISTOÉ.


ISTOÉ – Com quais perspectivas o sr. trabalha neste ano?
Ivan Zurita

Estamos trabalhando com um dólar médio de 3,6, uma inflação entre 11% e 12%, e o crescimento que a gente espera para o Brasil é de 2,5%, 3%. Eu sei que é um pouco conservador, mas prefiro trabalhar assim. Porém, acredito que a entrada de capitais continua e isso responde a essa necessidade de credibilidade. A inflação tem que ser controlada, existe um esforço nesse sentido e isso também tem a ver com tranquilidade. A equipe do Ministério, com a qual tive contato pessoal, me chamou a atenção positivamente, pela transparência, simplicidade e boas intenções. Acho que isso é muito bom. Os primeiros passos são muito positivos. Agora, esperamos que saia a reforma da Previdência e a reforma fiscal.

ISTOÉ – E a guerra contra o Iraque?
Ivan Zurita

A única preocupação que tenho hoje é com o ambiente internacional, com essa guerra que acontece, não acontece. Isso pode prejudicar nossas exportações, especialmente a agroindústria, hoje uma fortaleza que o Brasil possui. Esse é um risco à nossa porta que muda todo o quadro. Uma vez que aconteça a guerra, detona-se um processo que afetará todos os mercados. As Bolsas já estão sendo afetadas por isso. Por outro lado, há a dúvida em relação ao período da guerra. Quanto tempo? É uma guerra curta, longa? Qual seu efeito? Nós continuamos batalhando sem considerar a existência da guerra. Acho que a gente não pode trabalhar pensando no que pode acontecer. Temos que continuar no nosso caminho. Mas nos preocupa também porque, como grupo, exportamos muito para aquela região.

ISTOÉ – Por que a Nestlé decidiu participar tão ativamente no projeto Fome Zero do governo?
Ivan Zurita

O projeto Fome Zero é muito bom, um despertar em nível mundial. Hoje nós, brasileiros, estamos muito mais sensibilizados com o problema do que antes. Daí termos que tomar uma atitude. Nesse sentido, a Nestlé foi a primeira a oferecer uma campanha da dimensão que vocês estão vendo, um projeto social. Logicamente o problema da fome e da miséria nos preocupa, mas o projeto que desenvolvemos cobre o primeiro emprego, doação emergencial, a educação alimentar, a distribuição de uma casa por dia – é importante como exemplo até – e, finalmente, o apoio às instituições carentes para fazer com que o alimento que vamos doar realmente chegue às pessoas que precisam. Já estamos convocando nossos consumidores a participar conosco desse projeto. Foi isso que fizemos na doação de um milhão de quilos de alimentos, transformando um milhão de quilos de cartas que recebemos em um milhão de quilos de alimentos.

ISTOÉ – Qual a garantia que o sr. tem de que esse um milhão de quilos de alimentos vai chegar à casa de quem precisa?
Ivan Zurita

Isso vai via Pastoral da Criança, que tem uma base
fantástica. Acho que esta é a melhor maneira de fazer chegar
o alimento a quem precisa. Fazemos a entrega onde a Pastoral determinar, a distribuição é nossa.

ISTOÉ – O projeto Fome Zero seria o primeiro passo do País em direção a uma realidade menos dramática?
Ivan Zurita

Acho que a saída do Brasil é através do investimento. Podemos ajudar o País com novas fábricas, novos investimentos, novos projetos, para gerar empregos e aumentar a arrecadação. Tudo isso que estamos fazendo é emergencial. Estamos combinando comercial com social
porque eu represento uma companhia e estou aqui para garantir
o retorno do investimento. É preciso ser realista. Agora, podendo combinar as duas coisas, é fantástico. Acho que isso é um exemplo
para as outras companhias.

ISTOÉ – Como tem sido o comportamento da classe empresarial em relação a esse “despertar” para o social?
Ivan Zurita

Recentemente, no Fórum Empresarial no Chile, nos reunimos com 100 executivos e empresários de diferentes atividades e discutimos o projeto social do governo. Desse fórum saiu uma comissão coordenada pela Viviane Senna e, depois de uma análise profunda dos problemas do País, focamos nosso trabalho na educação. Durante um jantar foi apresentado o projeto, que vai começar em Pernambuco, e fomos convocados a participar com uma cota. Posso dizer que na noite desse jantar foram angariados R$ 60 milhões para remunerar projetos de educação. É um projeto pela qualidade do ensino brasileiro. Temos
um índice de desistência que é fora de série. Em grande parte é a estrutura do ensino que provoca isso. Não vamos remunerar Estados, vamos remunerar projetos. O importante é que, de certa maneira,
vamos ter um controle sobre o projeto. Vamos sentar à mesa e ver
como o nosso dinheiro está sendo aplicado. Isso no nosso dia-a-dia
é perfeitamente normal.

ISTOÉ – Qual o sentimento do sr. ao presidir uma empresa de alimentos do porte da Nestlé num país em que há tanta gente passando fome?
Ivan Zurita

Essa é uma preocupação maior. Nós fomos a primeira companhia a responder a essa chamada. Não podemos esperar que uma empresa de alimentos tenha um futuro brilhante num país de famintos. Somos os primeiros interessados – por razões óbvias. Se a pobreza no País aumenta, o consumo diminui. Nós queremos exatamente o contrário: que todos os brasileiros tenham a possibilidade de atingir um nível mínimo de consumo. É nesse sentido que estamos trabalhando. Uma companhia de alimentos é mais sensível porque sabemos a importância da nutrição no desenvolvimento das crianças. E, se as crianças não têm acesso a isso, como fazemos? Nós fomos os primeiros e o governo nos outorgou o número 1 de apoio ao projeto Fome Zero. Isso é uma contrapartida dos 81 anos que a Nestlé está no Brasil ao consumidor brasileiro. Se hoje nós estamos aqui é porque os consumidores apoiaram nossas marcas e acreditaram nessa companhia. Não é um projeto que eu possa transferir para outros países, mas, no caso do Brasil, acho que temos a obrigação de estarmos juntos num momento como esse. Nós temos 95% de penetração nos lares brasileiros e não podemos ficar de fora. Estamos aqui para colaborar para melhorar o nível de vida do brasileiro, além de produzir alimentos de qualidade. Se não for assim, não existe futuro para nenhum tipo de investimento neste país.

ISTOÉ – Qual o plano de vôo da Nestlé neste ano?
Ivan Zurita

No ano passado, nós falamos num crescimento equivalente ao dobro do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e conseguimos superar essa meta. Neste ano, continuamos com o mesmo compromisso. Temos novos produtos, além dessa promoção que vai até dezembro com diferentes atividades, diferentes regiões, diferentes momentos. Continuamos investindo US$ 150 milhões em nossas fábricas. A de Araras, de café solúvel, em fase de acabamento e que nos levou a investir R$ 100 milhões, vai ficar pronta em dezembro e em março deverá estar produzindo. Temos alguns planos de aumento de capacidade em nossas fábricas e negociações de novas aquisições em andamento, que espero estejam definidas até meados do ano.

ISTOÉ – Sobrou alguma empresa para a Nestlé comprar?
Ivan Zurita

Sempre existem oportunidades. O Brasil tem muitas companhias na área de alimentos com potencial de aquisição.

ISTOÉ – Qual a impressão que o presidente mundial da companhia, Peter Brabeck, levou de Brasília?
Ivan Zurita

Ele teve a honra de ser o primeiro presidente de uma multinacional a visitar o presidente Lula e nove de seus ministros. E ficou muito bem impressionado. O governo deixou bastante claro que a prioridade está nesse projeto e, como eu disse, nós, como uma companhia de alimentos, temos mais é que acompanhar. Sempre demos esse apoio. O que estamos fazendo agora é juntar os diferentes projetos que temos na companhia dentro de um único que nós chamamos Nestlé e Você Alimentando um Brasil Melhor. A nossa intenção é juntar os fornecedores, que somam 35 mil, e convocá-los a participar. Isso já estamos fazendo e a adesão é grande. Se a Nestlé crescesse 5% ao ano, teria que ter uma nova fábrica ao ano, ou melhor, o equivalente a uma fábrica por ano. Imagine o que uma fábrica de 60 mil toneladas mobiliza de mão-de-obra. A responsabilidade é muito grande. Cada 1% que deixe de crescer desemprega 2.200 famílias. Nós recebemos 1,6 bilhão de litros de leite por ano. Não existe crise para as vacas.

ISTOÉ – E a guerra contra o Iraque?
Ivan Zurita

A única preocupação que tenho hoje é com o ambiente internacional, com essa guerra que acontece, não acontece. Isso pode prejudicar nossas exportações, especialmente a agroindústria, hoje uma fortaleza que o Brasil possui. Esse é um risco à nossa porta que muda todo o quadro. Uma vez que aconteça a guerra, detona-se um processo que afetará todos os mercados. As Bolsas já estão sendo afetadas por isso. Por outro lado, há a dúvida em relação ao período da guerra. Quanto tempo? É uma guerra curta, longa? Qual seu efeito? Nós continuamos batalhando sem considerar a existência da guerra. Acho que a gente não pode trabalhar pensando no que pode acontecer. Temos que continuar no nosso caminho. Mas nos preocupa também porque, como grupo, exportamos muito para aquela região.

ISTOÉ – Por que a Nestlé decidiu participar tão ativamente no projeto Fome Zero do governo?
Ivan Zurita

O projeto Fome Zero é muito bom, um despertar em nível mundial. Hoje nós, brasileiros, estamos muito mais sensibilizados com o problema do que antes. Daí termos que tomar uma atitude. Nesse sentido, a Nestlé foi a primeira a oferecer uma campanha da dimensão que vocês estão vendo, um projeto social. Logicamente o problema da fome e da miséria nos preocupa, mas o projeto que desenvolvemos cobre o primeiro emprego, doação emergencial, a educação alimentar, a distribuição de uma casa por dia – é importante como exemplo até – e, finalmente, o apoio às instituições carentes para fazer com que o alimento que vamos doar realmente chegue às pessoas que precisam. Já estamos convocando nossos consumidores a participar conosco desse projeto. Foi isso que fizemos na doação de um milhão de quilos de alimentos, transformando um milhão de quilos de cartas que recebemos em um milhão de quilos de alimentos.

ISTOÉ – Qual a garantia que o sr. tem de que esse um milhão de quilos de alimentos vai chegar à casa de quem precisa?
Ivan Zurita

Isso vai via Pastoral da Criança, que tem uma base
fantástica. Acho que esta é a melhor maneira de fazer chegar
o alimento a quem precisa. Fazemos a entrega onde a Pastoral determinar, a distribuição é nossa.

ISTOÉ – O projeto Fome Zero seria o primeiro passo do País em direção a uma realidade menos dramática?
Ivan Zurita

Acho que a saída do Brasil é através do investimento. Podemos ajudar o País com novas fábricas, novos investimentos, novos projetos, para gerar empregos e aumentar a arrecadação. Tudo isso que estamos fazendo é emergencial. Estamos combinando comercial com social
porque eu represento uma companhia e estou aqui para garantir
o retorno do investimento. É preciso ser realista. Agora, podendo combinar as duas coisas, é fantástico. Acho que isso é um exemplo
para as outras companhias.

ISTOÉ – Como tem sido o comportamento da classe empresarial em relação a esse “despertar” para o social?
Ivan Zurita

Recentemente, no Fórum Empresarial no Chile, nos reunimos com 100 executivos e empresários de diferentes atividades e discutimos o projeto social do governo. Desse fórum saiu uma comissão coordenada pela Viviane Senna e, depois de uma análise profunda dos problemas do País, focamos nosso trabalho na educação. Durante um jantar foi apresentado o projeto, que vai começar em Pernambuco, e fomos convocados a participar com uma cota. Posso dizer que na noite desse jantar foram angariados R$ 60 milhões para remunerar projetos de educação. É um projeto pela qualidade do ensino brasileiro. Temos
um índice de desistência que é fora de série. Em grande parte é a estrutura do ensino que provoca isso. Não vamos remunerar Estados, vamos remunerar projetos. O importante é que, de certa maneira,
vamos ter um controle sobre o projeto. Vamos sentar à mesa e ver
como o nosso dinheiro está sendo aplicado. Isso no nosso dia-a-dia
é perfeitamente normal.

ISTOÉ – Qual o sentimento do sr. ao presidir uma empresa de alimentos do porte da Nestlé num país em que há tanta gente passando fome?
Ivan Zurita

Essa é uma preocupação maior. Nós fomos a primeira companhia a responder a essa chamada. Não podemos esperar que uma empresa de alimentos tenha um futuro brilhante num país de famintos. Somos os primeiros interessados – por razões óbvias. Se a pobreza no País aumenta, o consumo diminui. Nós queremos exatamente o contrário: que todos os brasileiros tenham a possibilidade de atingir um nível mínimo de consumo. É nesse sentido que estamos trabalhando. Uma companhia de alimentos é mais sensível porque sabemos a importância da nutrição no desenvolvimento das crianças. E, se as crianças não têm acesso a isso, como fazemos? Nós fomos os primeiros e o governo nos outorgou o número 1 de apoio ao projeto Fome Zero. Isso é uma contrapartida dos 81 anos que a Nestlé está no Brasil ao consumidor brasileiro. Se hoje nós estamos aqui é porque os consumidores apoiaram nossas marcas e acreditaram nessa companhia. Não é um projeto que eu possa transferir para outros países, mas, no caso do Brasil, acho que temos a obrigação de estarmos juntos num momento como esse. Nós temos 95% de penetração nos lares brasileiros e não podemos ficar de fora. Estamos aqui para colaborar para melhorar o nível de vida do brasileiro, além de produzir alimentos de qualidade. Se não for assim, não existe futuro para nenhum tipo de investimento neste país.

ISTOÉ – Qual o plano de vôo da Nestlé neste ano?
Ivan Zurita

No ano passado, nós falamos num crescimento equivalente ao dobro do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e conseguimos superar essa meta. Neste ano, continuamos com o mesmo compromisso. Temos novos produtos, além dessa promoção que vai até dezembro com diferentes atividades, diferentes regiões, diferentes momentos. Continuamos investindo US$ 150 milhões em nossas fábricas. A de Araras, de café solúvel, em fase de acabamento e que nos levou a investir R$ 100 milhões, vai ficar pronta em dezembro e em março deverá estar produzindo. Temos alguns planos de aumento de capacidade em nossas fábricas e negociações de novas aquisições em andamento, que espero estejam definidas até meados do ano.

ISTOÉ – Sobrou alguma empresa para a Nestlé comprar?
Ivan Zurita

Sempre existem oportunidades. O Brasil tem muitas companhias na área de alimentos com potencial de aquisição.

ISTOÉ – Qual a impressão que o presidente mundial da companhia, Peter Brabeck, levou de Brasília?
Ivan Zurita

Ele teve a honra de ser o primeiro presidente de uma multinacional a visitar o presidente Lula e nove de seus ministros. E ficou muito bem impressionado. O governo deixou bastante claro que a prioridade está nesse projeto e, como eu disse, nós, como uma companhia de alimentos, temos mais é que acompanhar. Sempre demos esse apoio. O que estamos fazendo agora é juntar os diferentes projetos que temos na companhia dentro de um único que nós chamamos Nestlé e Você Alimentando um Brasil Melhor. A nossa intenção é juntar os fornecedores, que somam 35 mil, e convocá-los a participar. Isso já estamos fazendo e a adesão é grande. Se a Nestlé crescesse 5% ao ano, teria que ter uma nova fábrica ao ano, ou melhor, o equivalente a uma fábrica por ano. Imagine o que uma fábrica de 60 mil toneladas mobiliza de mão-de-obra. A responsabilidade é muito grande. Cada 1% que deixe de crescer desemprega 2.200 famílias. Nós recebemos 1,6 bilhão de litros de leite por ano. Não existe crise para as vacas.