O negócio da família é um colosso: 28 lojas de madeira e R$ 180 milhões de faturamento anual. As ações da empresa e o comando são compartilhados harmoniosamente entre os irmãos. Os planos de expansão da rede não param de sair do papel. O projeto dos sonhos, uma loja ecológica, modelo para o futuro, é inaugurado com um sucesso tremendo. Tudo vinha dando certo na vida do empresário Samuel Seibel, 48 anos, herdeiro da Leo Madeiras e até o fim do ano passado um dos comandantes da empresa.
E continua dando certo, o que torna ainda mais inusitado o fato
de que Seibel tenha jogado tudo para o alto (menos a participação
acionária na companhia), encerrando um ciclo de 20 anos de labuta
na loja fundada na década de 40 por um polonês de nome Leo
e adquirida por seu pai em 1961.

Leitor voraz e frequentador assíduo de livrarias, Seibel acabou comprando uma para si próprio. E não uma qualquer. Desde janeiro, o empresário é dono da Livraria da Vila, um aconchegante estabelecimento encravado na descolada Vila Madalena, reduto paulistano de intelectuais, artistas, famosos e neo-hippies em geral. A reviravolta na vida tem um motivo claro (“percebi que é isso o que eu quero fazer da vida”) e um objetivo cristalino (“eu queria associar meu futuro a uma atividade prazerosa”). A decisão foi de supetão. Entre a determinação de mudar de ramo, tomada em visitas às simpáticas livrarias cariocas, e a entrega do cheque a Aldo Bochini, o antigo dono, transcorreram dois meses.

A primeira vantagem da troca do colosso familiar por um negócio que faturou R$ 3 milhões no ano passado é visível: Seibel recebe seus convidados e despacha com os funcionários em um escritório improvisado nas mesinhas de café sob a sombra de uma jabuticabeira, nos fundos da loja. A leveza da situação não tira a seriedade da empreitada. “Tem o lado do prazer envolvido, mas a livraria é um negócio como qualquer outro”, avisa Seibel, que se diz um homem de “balcão”.

Sua vida de empresário começou quando uma carreira jornalística, iniciada cinco anos antes, se mostrou sem perspectivas. Já com o primeiro filho no colo (são dois), Seibel ainda permaneceu algum tempo
no jornal onde trabalhava enquanto criava o embrião do que viria a ser
o departamento de marketing da Leo Madeiras. Na época, 1982, existia apenas a loja original, na rua do Gasômetro, em São Paulo (ainda em funcionamento). O serviço inicial foi produzir um jornalzinho para a clientela. A atividade, que tomava não mais que uma tarde, aos
poucos evoluiu para o lado comercial, o tal do “balcão”. “Nem imaginava que tinha essa capacidade”, diz. E que capacidade, a julgar pela expansão vivida nas duas décadas seguintes, quando a loja se
tornaria a rede que é hoje sob o comando de Seibel e do irmão Helio, formalmente o presidente da empresa.

A história, diz o próprio Seibel, não deve se repetir agora. Há planos de expandir a livraria, mas ela jamais deverá atingir um porte equivalente ao da Leo Madeiras. “A Livraria da Vila é muito especial. Há um conceito de serviço e de atendimento que é reproduzível, mas não em grande escala”, afirma. Duas ou três novas lojas, em locais escolhidos a dedo, dariam novo porte ao negócio, ao mesmo tempo que não prejudicariam o conceito da marca. “Esse é o objetivo”, revela. Até chegar lá e colocar seu novo negócio no ponto que considera ideal, Seibel terá de cumprir uma rotina que sacrifica seu hábito predileto: “Por enquanto estou lendo menos do que o habitual…”

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