É mais fácil passar uma noite com a Kate Middleton do que esperar que os ingleses promovam um evento melodramático. Aprenderam e desenvolveram um jeito de se emocionar que se esquiva dos extremos. Assim foi a cerimônia de abertura dos Jogos de Londres. A festa começou e terminou sem nenhum olho marejado, sem nada que inspire um bolero, sem uma jura falsa de amor. Nem sequer aquele tarjinha-preta pra baixar a bola se fez necessário.

Apesar disso, o espetáculo conseguiu manter a minha atenção presa por quatro horas. Isso não acontecia desde 2001, quando Silvio Santos passou esse mesmo tempo brilhantemente enrolando os espectadores, os patrocinadores, o Supla e a Bárbara Paz na final da primeira edição do reality show “Casa dos Artistas”. Gênio.

Comum demais ouvir por aqui que o Brasil tem muito a aprender com os britânicos. “Isso é que é segurança!”, “Olha só que organização”, pulverizam, entre gotículas de saliva, os mais entusiasmados. A cerimônia de abertura mostrou que, por paradoxal que possa parecer, eles têm o que nos ensinar em termos de festa. Deixa a segurança e a organização com a gente. Necessitamos que eles nos deem aulas sobre como criar um roteiro de cerimônia surpreendente.

Aliás, algumas dessas lições nem precisam ser aprendidas. Basta copiá-las, com o cuidado de tropicalizá-las. Colocar umas gotinhas de dendê nesse fish and chips. Peguemos o exemplo de um dos pontos mais sensíveis da cerimônia: a chegada da principal autoridade nacional. Como se viu por aqui, a rainha Elizabeth “pulou” de um helicóptero escudada por James Bond. Óbvio que não queremos expor a nossa presidenta a risco parecido, mesmo que protegida por um herói nacional de ficção. Mas nada impede que Dilma entre no Maracanã no interior de um caveirão. Depois de estacionar, Wagner Moura desceria do veículo na pele do capitão Nascimento. Do lado de fora, ele gritaria quatro vezes: “Pede pra sair!”. Só então a presidenta deixaria o carro com destino às tribunas. Fogos!

Tropicalizar a cena em que o mr. Bean martela a mesma tecla de piano no tema de “Carruagens de Fogo” é moleza. Basta trocar essa música pelo “Samba de uma Nota Só”, do Jobim. Depois, basta arranjar alguém bom de careta. Pena que o Costinha não está mais entre nós. Mas o Russo, aquele assistente de palco do Chacrinha, ainda circula por aí. Um pouquinho mais de esforço é necessário para adaptar a sequência em que David Beckham chega de lancha e acende a tocha na beira do cais. Na versão brasileira, o ex-jogador em atividade seria o Adriano. O atacante do Flamengo só teria de dar um soprão, o que, acredito, seja suficiente para acender a pira.

Esses são apenas alguns exemplos a serem aprendidos com os súditos da rainha. Isso porque a gente não tem o menor direito de fazer uma festa menos emocionante que a deles.