As manchetes catastróficas da semana foram substituídas. A matança no Oriente Médio e a tragédia econômica argentina cederam seu espaço nobre nos jornais para advertências apocalípticas sobre uma eventual vitória de Lula nas próximas eleições. O detonador veio dos Estados Unidos, onde funcionários dos bancos Morgan Stanley e Merril Lynch, baseados nos resultados das pesquisas eleitorais aqui no Brasil, resolveram alertar seus clientes para o risco de se investir dinheiro num país ameaçado de ter a esquerda no poder. O banco ABN Amro em Nova York foi pelo mesmo caminho. Os analistas retificaram a classificação dos títulos da dívida externa brasileira da recomendação de compra para neutra. Como resultado disso, a quinta-feira foi carregada de adrenalina nos mercados brasileiros. A Bolsa de Valores de São Paulo caiu 4,17%, sua maior baixa desde novembro, o dólar subiu quase 1,5%, para R$ 2,39, e o tal risco Brasil, uma espécie de índice de confiabilidade do rebanho eletrônico – os investidores/especuladores globais –, subiu de 856 para 883 pontos.

A mídia, com suas manchetes carregadas de tintas contra o “efeito Lula”, conseguiu ser mais governista que o próprio governo, que teve reações convergentes com as da oposição. O ministro da Fazenda, Pedro Malan, disse que as análises são equivocadas e precipitadas. Para Guido Mantega, assessor econômico de Lula, “o processo eleitoral não se pode dar no terreno da intimidação e do terrorismo. É um absurdo o Brasil ter risco maior que o da Turquia, que teve uma queda de 10% no seu PIB”. José Serra foi irônico: “Eles devem pensar que a capital do Brasil é Buenos Aires.”

Fernando Henrique disse que não deixará a governabilidade ser atingida pelo jogo de mercado, e Lula atacou os bancos. O candidato petista afirmou que as análises são feitas por aventureiros: “São inverdades plantadas de dia e desmentidas de noite.” No caso do ABN Amro, o desmentido veio bem mais rápido. A diretoria do banco no Brasil divulgou nota à imprensa, em que, primeiro, ressalva que seus analistas têm independência e, depois, os desautoriza: “A economia brasileira tem fundamentos sólidos e defendemos o pluralismo de idéias como algo vital no processo de evolução democrática.”